segunda-feira, setembro 10, 2007
Escrevendo demais
Uma notinha personalíssima: estou me sentindo um bocado amuado aqui em Dallas, tenho passado muito tempo sozinho, não ando bem. Sempre que isso acontece me dá um surto e começo a escrever. A isso se deve a recente atividade no Folhas Dispersas e no Prudence Regained. Muito tempo livre e muita coisa para tirar do sistema.
Taiguara e a Chicolatria
Estou por esses tempos pensando um pouco num fenômeno cultural brasileiro que sempre me entrigou, o qual se resume no nome Chico Buarque de Holanda.
O primeiro problema relacionado ao fenômeno Chico é que quem quer que venha a tecer alguma crítica contra o trabalho do sujeito já precisa começar pedindo mil desculpas, fazendo mesuras e arriscando ser massacrado assim mesmo. Não pedirei desculpas, por tanto, e a crítica começa já por aí. O que é que existe de tão religioso na adoração ao Chico Buarque que não permite que o sujeito seja alvo de qualquer comentário, crítica, sugestão, adendo, aparte, nem uma olhadela meio torta? O cúmulo dos cúmulos foram aqueles sujeitos que, por ocasião do flagrante de adulterio envolvendo o músico em plena praia, disseram algo do tipo "Para o Chico eu liberava minha mulher..." Vai ser lambe saco assim no inferno. Esses sujeitos mereciam no mínimo um pedido de divórcio por parte das suas respectivas senhoras. O cara que diz uma coisa dessa está claramente acometido de uma doença que meu velho pai diagnosticava em muita gente, com altíssimo índice de acerto: tesão no cu.
Aí tem a coisa de que o Chico entende o coração feminino como ninguém. Minha cara senhora, se o Chico entende bem o seu coração feminino a senhora deve trabalhar na zona, porque eu nunca vi um sujeito com uma produção tão grande sobre prostitutas quanto ele, com exceção talvez do Oscar Niemayer (por sinal, os dois são formados em arquitetura, comunistas declarados e unanimidades entre nossa esquerda chique). Se o seu coração foi desvendado pelo Chico Buarque, é por que talvez o grande antropólogo Nelson Rodrigues esteja certo sobre as mulheres, e talvez seja uma boa hora para a senhora mudar de profissão.
No mais, se você é comunista, petista, socialista, meio lerdo das idéias ou simplesmente mau-caráter mesmo, é bem provável que tenha uma profunda admiração pelo Chico Buarque por sua emblemática luta contra a Ditadura, seu jeito de estar ao lado do povo, e toda aquela lenga lenga. Surpreendentemente, até entre os brasileiros mais conservadores existe um bom número de pessoas que acha que o Chico se salva, ele é comunista mas é um grande artista, e por aí vai. Se você se encontra em algum desses casos, abra um pouco os horizontes musicais, porque desde que o dito Chico estudava na FAU, existia na Maria Antônia um cara do Direito Mack (sou franciscano, meus colegas me desculpem, mas esse mackenzista de salva) chamado Taiguara que, segundo consta, foi muito mais comunista do que o Chico (amigo do Prestes, militante descarado, mas sem babaquice nas declarações), muito mais perseguido do que o Chico (umas 100 músicas censuradas, albums recolhidos, foi o primeiro artista da MPB a lançar disco no exterior e não aqui por causa da ditadura) e o mais importante: foi muito mais talentoso do que o Chico jamais vai ser.
Lembrei muito do Taiguara ao pensar nessa "chicolatria" brasileira porque sempre que eu ameaçava reclamar do Chico Buarque alguém me dizia, meio espumanodo de raiva, se eu conhecia artista melhor. Conheço muitos. Para mim o melhor músico mais ou menos popular em atividade no Brasil é o Elomar Figueira de Melo, sem favor nenhum, mas se eu citasse alguem de outro estilo, época ou orientação ideológica iam falar que persigo o cara porque fazia samba (mas eu gosto de samba...), por que era comunista (mas não precisava ser tão cretino), ou algo assim, todavia, pela proximidade entre um e outro, o Taiguara é um exemplo perfeito para esfregar na cara dos chicólartas.
Taigura escrevia músicas com um lirismo absoluto, uma sensibilidade imensa, um profundo otimismo em boa parte das canções e uma capacidade para apreender o belo, o bom, tanto na composição da música quanto na poesia. Já o Chico Buarque sempre teve um faro para o mesquinho, o baixo, o sujo. Ele pegava o popularesco, o cortiço, e dava uma roupagem poética para aquilo. Essa era sua poesia boa parte das vezes. Taiguara tinha, ao que me parece, mais alma, estava orientado (a despeito de sua ideologia) para coisas mais elevadas.
Ironicamente, para mim, Taiguara gravou Chico Buarque, não sei em quantas, mas ao menos em uma ocasião. Foi uma coisa boa, porque ao contrário do Chico, Taiguara possuía uma voz extraordinária. Nem sei bem como descrever uma voz como a dele; talvez descreva como leve, límpida, clara e bem projetada, como um arauto anunciando uma boa notícia, um tanto risonha em certas ocasiões, e bem lírica, sussurrada e mansa em outras. O fato é que como intérprete e instrumentista, também, dez a zero para Taiguara.
Diante desse exemplo paradigmático, sou obrigado a concordar com o Olavo de Carvalho quando diz que o brasileiro sempre escolhe para admirar e idolatrar aquilo que é de pior qualidade. Isto posto, há que se considerar que o aspecto ideológico da música não se salva em nenhum caso (embora eu ouça tanto o Chico Buarque quanto o Taiguara - agora já se sabe qual deles prefiro - e goste da música deles, afinal cresci ouvindo e continuo gostando). Posso inclusive dizer que o Cavaleiro da Esperança é uma música espetacular, tanto a melodia quanto o ritmo mostram a criatividade de Taiguara de forma exemplar, mas não tem levar a sério a louvação da figura mitologizada do Prestes. Do mesmo modo, quando Chico Buarque faz um fado como Tanto Mar (sou bisneto de português, fã da Dulce Pontes, da Amália Rodrigues...) acho que a música está super bem arranjada, a música realmente é cantável sem ser exagerada, está bonita, mas ficar homenagiando a Revolução dos Cravos, o golpe de misericórdia no Império Português, tornando o país uma aberração em plena Europa ocidental, é demais para quem não é um socialista irrecuperável como um Saramago.O primeiro problema relacionado ao fenômeno Chico é que quem quer que venha a tecer alguma crítica contra o trabalho do sujeito já precisa começar pedindo mil desculpas, fazendo mesuras e arriscando ser massacrado assim mesmo. Não pedirei desculpas, por tanto, e a crítica começa já por aí. O que é que existe de tão religioso na adoração ao Chico Buarque que não permite que o sujeito seja alvo de qualquer comentário, crítica, sugestão, adendo, aparte, nem uma olhadela meio torta? O cúmulo dos cúmulos foram aqueles sujeitos que, por ocasião do flagrante de adulterio envolvendo o músico em plena praia, disseram algo do tipo "Para o Chico eu liberava minha mulher..." Vai ser lambe saco assim no inferno. Esses sujeitos mereciam no mínimo um pedido de divórcio por parte das suas respectivas senhoras. O cara que diz uma coisa dessa está claramente acometido de uma doença que meu velho pai diagnosticava em muita gente, com altíssimo índice de acerto: tesão no cu.
Aí tem a coisa de que o Chico entende o coração feminino como ninguém. Minha cara senhora, se o Chico entende bem o seu coração feminino a senhora deve trabalhar na zona, porque eu nunca vi um sujeito com uma produção tão grande sobre prostitutas quanto ele, com exceção talvez do Oscar Niemayer (por sinal, os dois são formados em arquitetura, comunistas declarados e unanimidades entre nossa esquerda chique). Se o seu coração foi desvendado pelo Chico Buarque, é por que talvez o grande antropólogo Nelson Rodrigues esteja certo sobre as mulheres, e talvez seja uma boa hora para a senhora mudar de profissão.
No mais, se você é comunista, petista, socialista, meio lerdo das idéias ou simplesmente mau-caráter mesmo, é bem provável que tenha uma profunda admiração pelo Chico Buarque por sua emblemática luta contra a Ditadura, seu jeito de estar ao lado do povo, e toda aquela lenga lenga. Surpreendentemente, até entre os brasileiros mais conservadores existe um bom número de pessoas que acha que o Chico se salva, ele é comunista mas é um grande artista, e por aí vai. Se você se encontra em algum desses casos, abra um pouco os horizontes musicais, porque desde que o dito Chico estudava na FAU, existia na Maria Antônia um cara do Direito Mack (sou franciscano, meus colegas me desculpem, mas esse mackenzista de salva) chamado Taiguara que, segundo consta, foi muito mais comunista do que o Chico (amigo do Prestes, militante descarado, mas sem babaquice nas declarações), muito mais perseguido do que o Chico (umas 100 músicas censuradas, albums recolhidos, foi o primeiro artista da MPB a lançar disco no exterior e não aqui por causa da ditadura) e o mais importante: foi muito mais talentoso do que o Chico jamais vai ser.
Lembrei muito do Taiguara ao pensar nessa "chicolatria" brasileira porque sempre que eu ameaçava reclamar do Chico Buarque alguém me dizia, meio espumanodo de raiva, se eu conhecia artista melhor. Conheço muitos. Para mim o melhor músico mais ou menos popular em atividade no Brasil é o Elomar Figueira de Melo, sem favor nenhum, mas se eu citasse alguem de outro estilo, época ou orientação ideológica iam falar que persigo o cara porque fazia samba (mas eu gosto de samba...), por que era comunista (mas não precisava ser tão cretino), ou algo assim, todavia, pela proximidade entre um e outro, o Taiguara é um exemplo perfeito para esfregar na cara dos chicólartas.
Taigura escrevia músicas com um lirismo absoluto, uma sensibilidade imensa, um profundo otimismo em boa parte das canções e uma capacidade para apreender o belo, o bom, tanto na composição da música quanto na poesia. Já o Chico Buarque sempre teve um faro para o mesquinho, o baixo, o sujo. Ele pegava o popularesco, o cortiço, e dava uma roupagem poética para aquilo. Essa era sua poesia boa parte das vezes. Taiguara tinha, ao que me parece, mais alma, estava orientado (a despeito de sua ideologia) para coisas mais elevadas.
Ironicamente, para mim, Taiguara gravou Chico Buarque, não sei em quantas, mas ao menos em uma ocasião. Foi uma coisa boa, porque ao contrário do Chico, Taiguara possuía uma voz extraordinária. Nem sei bem como descrever uma voz como a dele; talvez descreva como leve, límpida, clara e bem projetada, como um arauto anunciando uma boa notícia, um tanto risonha em certas ocasiões, e bem lírica, sussurrada e mansa em outras. O fato é que como intérprete e instrumentista, também, dez a zero para Taiguara.
Revisionismo historico já. No Brasil isso precisa ser feito em relação a nossa história recente, pois ela está sendo toda escrita pela esquerda champanhe (que é chique ou tenta - com variados graus de sucesso - fingir que é) representada pelo PT e petistas. Esta é minha pequena (quase marginal) contribuição.
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