Às vezes a cabeça cansa de pensar tantas coisas sérias. Fico dando tratos à bola no tempo livre, tenho um bocado de idéias e depois acho por bem esquecê-las. Toda uma obra filosófico-teológica que se perde entre o primeiro bocejo e o primeiro cigarro com café. Talvez seja melhor assim, pois levar as idéias ao seu desenvolvimento completo daria mais trabalho do que me permite a capacidade.
As tardes de Dallas são curtas para tudo o que eu gostaria de fazer, mas sobra tempo suficiente para tudo que a preguiça me deixa realizar. Mesmo assim vamos levando. A despeito de todo o molho barbecue, do sotaque gozado e da indumentária caipira, o povo é bastante simpático. Não conheci ninguém muito profundo, mas talvez por isso eles sejam tão alegres. Com 250 canais de TV por 50 dólares ninguém precisa ser muito intelectual. Esta constatação me deixou um bocado solitário uns dias atrás.
Não gosto de reclamar, mas não fosse pelas reclamações o mundo seria meio sem graça. Seria um poço de estoicismo que tornaria a vida mesma insuportável. Eu mesmo, que nunca fui de querer fazer grandes mudanças na vida e sempre suportei as inevitáveis com aquela cara de paciência bovina, ruminando os eventos que passavam por mim, acabei casando. Casar é a coisa mais perturbadora que existe. É introduzir na sua vida uma pessoa que está insatisfeita a maior parte do tempo. Foi a melhor coisa que fiz na vida. Agora sinto-me a salvo de minha própria inércia. A dinâmica funciona bem; há quem não concorde, mas para mim deu certo.
Agora posso reclamar à vontade, sem medo algum, pois no fim das contas, por mais que me achem um imbecil, há uma mulher que me desaprova por todas as razões erradas, mas me ama pelo que sou. Quero ver alguém arranjar um acordo melhor...
Aqui em Dallas as pessoas vão muito ao shopping. Há que nunca tenha visto o mar ao vivo, mas já foi ao shopping umas tantas vezes. Eu que nunca liguei muito para o mar acho que o shopping não é de todo mau. Ao menos não tem frango com farofa, só umas tantas bandejas na praça de alimentação. Em termos de entretenimento a cidade tem algo a oferecer. Eu é que nunca fui descobrir o que era. O que não me sai da cabeça é que Fort Worth, a outra ponta do "Metroplex" é uma cidade muito mais caipira e ao mesmo tempo muito mais cosmopolita do que Dallas. Lá a vida cultural é mais interessante, e concomitantemente existe um inegável jeitão de interior (velho oeste, para ser mais exato). Paradoxo inegavelmente intrigante. Talvez por isso a cidade receba tantos turistas.
Pelo mesmo preço de uma Pizza Hut você pode comprar uma pizza no Buca di Peppo. A pizza vem com pão e um pouco de pimenta para quem gosta. Massa fina, feita na hora, cheirosa e caprichada. Um delícia. Aqui você pode comer muito mal, mas também pode comer muito bem. É questão de escolha. Embora os EUA ofereçam muitas opções, acho que a cultura de junk food persiste por falta de bom gosto mesmo.
A vida adulta é cheia de pequenos aborrecimentos. A vida infantil só é aborrecida quando nos metemos a imitar os adultos. Todavia, a vida adulta possui uma série de refinamentos que a vida infantil não possui. A vida imaginada, rica, de um menino é substituída por um mundo bem mais pobre um possibilidades, menos imaginativo, porém mais rico em detalhes. O homem é mais capaz de perceber as muitas variações sobre o tema do trabalho, da vida familiar, do sexo oposto, da arte, da cozinha, do convívio social. O que gera angústia em muitos adultos é a incapacidade de superar as possibilidades infinitas da imaginação a fim de abraçar as sutilezas da maturidade. Vêem o mundo adulto do qual participam com os olhos de uma criança e o acham aborrecido. Nada mais natural. Poucos são capazes de empreender a tarefa intelectual de amadurecer. Se digo isso, é por que a vida toda lutei para sair dessa infantilidade ordinária na qual observava viverem os homens.
sexta-feira, abril 18, 2008
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