Eu ainda acredito no amor. E ainda espero que, apesar das circunstâncias difíceis que nos cercam todos, o amor ainda acredite em mim. Não parece razoável crer que ainda haja uma afeição tão pura que possa resistir a toda a corrupção tão fácil, tão atraente, que cerca a existência de cada um nesses tempos tão terríveis, mas ainda deve existir uma última resistência: loucos que, como eu, ainda acreditam no amor.
O amor às vezes é caprichoso e demora a se mostrar. Alguns já estão tão cansados de ser enganados por pseudo-amores, amores grávidos sempre da mesma desilusão, que não podem suportar a idéia de amar de novo. Isso é um crime horrendo. É o aborto do amor verdadeiro e, embora eu entenda melhor do que ninguém a dor que leva as pessoas a cometê-lo, é necessário parar de sufocar aquilo que há de mais belo por causa do medo.
Eu ainda acredito no amor, mas isso exige coragem. Muitas vezes me encontro absolutamente cansado, pronto para desistir de lutar, desejoso de que o amor acabe e a vida possa seguir sem mais perturbações do coração. Nessas horas me lembro, ao contemplar o mundo feio e vazio do desamor, como o amor é belo, como traz à luz o que há de mais encantador, mais puro e mais duradouro dentro de cada um. O amor é a preservação da vida, não da própria, mas da vida de quem se ama. É pensar no outro antes de si, e assim, quando amamos e somos amados, nos esquecemos de nós e ainda sim somos felizes, porque há alguém olhando por nós, fazendo uma prece singela e silenciosa por nossa felicidade. Sem amor nosso egoísmo nos leva a erguer reclamações vazias aos céus reclamando mais e mais para satisfação do próprio desejo, e não há nisso nada de agradável aos ouvidos de Deus.
Ainda acredito no amor, porque a alternativa é ainda pior do que sofrer por amor. A morte do amor é o fim da esperança, pois se não amamos não há o que esperar além da morte que chega apesar de tudo. Por isso tenho esperança, e se espero, é prova de que acredito no amor. O amor já me desapontou, mas se eu desanimasse, seria muito mais infeliz por saber que cada tristeza seria o fim. Se desanimamos no amor, pomos ao fim de cada riso, de cada beijo, de cada olhar, um ponto final. Após o ponto, não resta nada. Após o amor, no entanto, resta a verdadeira sabedoria, aquela de não ter vivido em vão.
Ainda acredito no amor, pois sei que o amor é perene para aqueles dispostos a assumí-lo. Acredito que podemos superar a dor, que é passageira, para enfim descansar nos braços de alguém que nos queira bem. Mas só se pudermos desistir de tudo, e tudo entregar. Se não tivermos mais apego à nossa mesquinha liberdade, à independência que não passa de um apelido para a solidão, se ousarmos acreditar, seremos capazes de qualquer coisa.
Ainda existem aqueles que acreditam no amor, mesmo que agora estejam entre as lágrimas. Mesmo o amor passado, que choramos por muito tempo, não foi vivido em vão. Ele nos mostrou que existe em nós ainda alguma fibra para resistir as investidas do mundo inteiro, e encontrar um canto escondido dentro da alma que ainda é capaz de se deixar tocar pela beleza.
Acreditar no amor é ter fidelidade a si próprio. Negar o amor é trair a si e a quem se ama. Acredito no amor e não vou desistir de amar porque na noite mais solitária, na angústia mais negra, na dor mais intensa, a lembrança do amor me valerá; e quando for feliz, serei muito mais feliz do que jamais poderia esperar. E nada no mundo traz uma felicidade mais luminosa e intoxicante, mais terna e libertadora, do que o amor
domingo, janeiro 29, 2006
terça-feira, janeiro 17, 2006
Silêncio
Existe algo reconfortante no silêncio. A total ausência de choro, riso, vozes, barulhos incidentais. Tanta gente se preocupa em fazer trilhas sonoras sentimentais da vida, e esquece que em algum momento houve um princípio em silêncio. Antes do primevo vagido, havia uma existência privada de expressão, havia um universo de sensações veladas cuja experiência era exclusivamente pessoal, e por isso o que havia de mais autêntico antes de chegarem as hipocrisias do mundo.
Pense, mas não fale; fale, mas não escreva; escreva, mas não assine. Se fosse capaz de observar essas regras não teria sido mais feliz, mas teria sido menos triste.
Reconfortante eu dizia, porque o silêncio não traz notícias ruins, não traz ventos de mudança, não traz contradições, não faz confusão, não se perde pelas palavras, não gera desacordo. Um mundo de silêncio seria impossível para qualquer um de nós, mas justamente por isso o silêncio é tão precioso nesse mundo em que somos tão apegados ao barulho.
As coisas mais belas que sentimos talvez não possam ser ditas. Seria diminuí-las e humilhá-las. Seria submetê-las à compreensão e à interpretação de alguém que desconhece a maneira pela qual elas foram compostas, que não nos sabe por inteiro e jamais poderia apreciar, por meio de meras palavras, a maravilha do sentimento em si.
Algumas coisas simplesmente não merecem ser ditas. Sobre certas coisas a observação do silêncio é a única resposta inteligente. Guardar para si o que há de pior e também o que há de mais sincero pode não ser recomendado pelo terapêuta, mas nos permite controlar o que esperamos que se pense de nós, porque ninguém é realmente capaz de aceitar o outro tão completamente. Somos juízes impiedosos dos outros, e ao julgá-los aprendemos que há muito sobre nós mesmos que convém calar.
Alguém mais experiente do que eu já disse que jamais devia um homem dizer "eu te amo". Seria expor-se demais e ninguém, por mais que ame, deveria se colocar à mercê de outra pessoa tão facilmente. Afinal não se sabe ao certo qual a real capacidade da amada para a crueldade. E nem, quando ferido o orgulho, a sua própria capacidade para ser cruel.
Existem coisas que não convém dizer a nós mesmos. Quem saberia dizer que monstro abrigamos debaixo da casca da nossa pele? Quem saberia se não é, pelo contrário, um santo que, liberto, nos obrigaria a tomar sobre nós mesmos dores muito piores do que queremos suportar? Viver pela metade é o desejo que aflora nos depressivos, não viver é o que querem os suicidas. Não falar é o hábito dos tímidos, que são muito cuidadosos em preservar suas personalidades ao invés de aniquilá-la. Nesse sentido, os extrovertidos se assemelham muito mais aos suicidas. Qual é a diferença entre se diluir em meio à massa humana que nos cerca e deixar simplesmente de existir? Convém viver calado, pois assim se salva a distinção entre os próprios pecados e os pecados dos outros. Seria muito cruel ser vítima de ambos.
Viver é perigoso demais. Melhor é observar, diligentemente, o silêncio.
Pense, mas não fale; fale, mas não escreva; escreva, mas não assine. Se fosse capaz de observar essas regras não teria sido mais feliz, mas teria sido menos triste.
Reconfortante eu dizia, porque o silêncio não traz notícias ruins, não traz ventos de mudança, não traz contradições, não faz confusão, não se perde pelas palavras, não gera desacordo. Um mundo de silêncio seria impossível para qualquer um de nós, mas justamente por isso o silêncio é tão precioso nesse mundo em que somos tão apegados ao barulho.
As coisas mais belas que sentimos talvez não possam ser ditas. Seria diminuí-las e humilhá-las. Seria submetê-las à compreensão e à interpretação de alguém que desconhece a maneira pela qual elas foram compostas, que não nos sabe por inteiro e jamais poderia apreciar, por meio de meras palavras, a maravilha do sentimento em si.
Algumas coisas simplesmente não merecem ser ditas. Sobre certas coisas a observação do silêncio é a única resposta inteligente. Guardar para si o que há de pior e também o que há de mais sincero pode não ser recomendado pelo terapêuta, mas nos permite controlar o que esperamos que se pense de nós, porque ninguém é realmente capaz de aceitar o outro tão completamente. Somos juízes impiedosos dos outros, e ao julgá-los aprendemos que há muito sobre nós mesmos que convém calar.
Alguém mais experiente do que eu já disse que jamais devia um homem dizer "eu te amo". Seria expor-se demais e ninguém, por mais que ame, deveria se colocar à mercê de outra pessoa tão facilmente. Afinal não se sabe ao certo qual a real capacidade da amada para a crueldade. E nem, quando ferido o orgulho, a sua própria capacidade para ser cruel.
Existem coisas que não convém dizer a nós mesmos. Quem saberia dizer que monstro abrigamos debaixo da casca da nossa pele? Quem saberia se não é, pelo contrário, um santo que, liberto, nos obrigaria a tomar sobre nós mesmos dores muito piores do que queremos suportar? Viver pela metade é o desejo que aflora nos depressivos, não viver é o que querem os suicidas. Não falar é o hábito dos tímidos, que são muito cuidadosos em preservar suas personalidades ao invés de aniquilá-la. Nesse sentido, os extrovertidos se assemelham muito mais aos suicidas. Qual é a diferença entre se diluir em meio à massa humana que nos cerca e deixar simplesmente de existir? Convém viver calado, pois assim se salva a distinção entre os próprios pecados e os pecados dos outros. Seria muito cruel ser vítima de ambos.
Viver é perigoso demais. Melhor é observar, diligentemente, o silêncio.
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