Um rapaz que anda cabisbaixo numa rua escura não tem nome. Não precisa de um. Sua função na ordem do universo é meramente ser um rapaz cabisbaixo cuja circunstância é andar por uma rua escura. Se lhe damos assim sem mais nem menos um nome, torna-se uma pessoa. Esse giro ontológico causa toda a espécie de problemas que eventualmente culminam na criação de um ou mais livros nos quais se desenrolam ações internas e externas devido à interação do rapaz com as circunstâncias nas quais está inserido. Procaria-se algum motivo para que estivese na rua, para que saísse da rua escura, dar-se-lhe-ia pensamentos sobre sua vida imaginada ou vivida, conforme o contexto no qual encontramos o rapaz (em um conto, por exemplo, ou no mundo real) e ele então colocaria o observador e fiel depositário do olhar sobre sua caminhada pela rua escura na difícil tarefa de revelar uma miríade de detalhes que o tornassem interessante ou ao menos um pouco mais humano. Tudo isso é necessidade, como dizia, gerada pelo ato simples de nomeá-lo.
Claro, um rapaz que precise ser nomeado não é um rapaz real. Um rapaz cabisbaixo de verdade possui um nome, e sem dúvida deve fazer bom uso dele a fim de "funcionar" no nosso mundo atual. É comum hoje, em relação aos rapazes cabisbaixos reais, o giro ontológico contrário. Um problema comum no estado moderno é justamente o fato de que está-se excluindo progressivamente o espaço para que rapazes cabisbaixos tenham nomes ou mesmo pensamentos. Isso seria acabar com a isonomia com a qual a burocracia democraticamente trata a todos. Trata mal, é verdade, mas é obrigada por lei a tratar igualmente mal.
Então, prosseguindo, o rapaz, ironicamente fadado a andar pela rua escura, cabisbaixo, tem em sua breve existência (que já conta de cinco minutos completos) uma série de problemas filosóficos, gramaticais e políticos com os quais deverá se haver um dia, caso venha a fazer perguntas bastante apropriadas a um rapaz inteligente que por um acaso venha a deparar-se com um volume de filosofia ou teologia, e poderia então revoltar-se contra aquele que lhe conferiu essa existência não empírica de ente puramente intelectual. Supondo que o faça, ficaríamos bastante surpresos com tamanha ingratidão, em especial considerando que o criamos faz pouco mais de seis minutos, agora.
Seria, no entanto, muita arrogância esperar qualquer espécie de reconhecimento por parte do rapaz que anda cabisbaixo pela rua. Ou não? Se, dentro de nossas possibilidades, fomos benevolentes o suficiente para conceder-lhe existência, o rapaz poderia estar um pouco mais feliz. Todavia, poder-se-ia argumentar que o rapaz anda cabisbaixo porque, conforme o criamos, não poderia andar de outra maneira. É bem verdade que não conseguiríamos, dentro de nossas capacidades, fazê-lo dotado de alguma espécie de autonomima. Seria necessário um ente bem mais capaz do que eu para fazer um rapaz cabisbaixo que pudesse olhar dos confins de nossa mente para nós mesmos e erquer os punhos revoltado por estar naquela rua escura. Desse modo, qualquer revolta, além de inútil, seria uma impossibilidade.
Somos tentados a nos perguntar, após esta breve investigação, se não seria essa a principal diferença entre o rapaz cabisbaixo real e o imaginado. Falo do rapaz real porque é possível que enconremos em algum lugar no mundo um rapaz que atenda a essas condições tão simples que possamos chamá-lo, num sentido figurado, a tomar parte em nosso exercício. O rapaz real poderia então erguer os punhos em revolta contra sua circuntância. Ele possui um nome, e possui pensamentos que muitas vezes escapam a qualquer controle, inclusive o seu próprio. Ele existe independente de nossa vontade, tomamo-lo como um rapaz dado na realidade empírica. Este rapaz está andando em um mundo dotado de um senso de história não-cíclico, afinal o futuro não aconteceu, e o passado já está além de nossa esfera de ação. A ação e o pensamento acontecem no presente do rapaz que caminha cabisbaixo. Tudo que lhe é dado é dado agora. Seria então possível que seu futuro fosse determinado ou sequer conhecido?
Para que um futuro seja conhecido existem duas condições. A primeira é a observação da repetição de um evento. A segunda é a capacidade de produzí-lo. Se alguém for poderoso o suficiente para garantir que um evento se produzirá no futuro, poderá ser um cientista. Se essa pessoa pode produzir todos os eventos que de fato ocorrem no universo, essa pessoa é necessariamente Deus. Isso deixa pouco espaço para o indeterminado. O espaço de ação que teríamos seria muito pequeno, se houvesse algum. Seríamos ontologicamente iguais ao rapaz cabisbaixo imaginado. No entanto, cremos que não é assim. Somos livres para realizar ao menos uma grande escolha dentro dessa ordem de coisas. Nossos atos de volição não são determinados por nada além de nossa própria capacidade de imaginar, de modo que a natureza não pode refrear o gênio humano com sua necessidade absoluta. Desafiamos o meramente orgânico a todo o tempo, e isso constitui a prova mesma da liberdade da qual fomos dotados para que fôssemos muito mais interessantes do que meros rapazes imaginados para investigações hipotéticas numa tarde de sexta-feira. Podemos acreditar nesse Deus ou não. Podemos acreditar Nele e ainda permanecer insubmissos, levados pela idéia de falsa liberdade que e aquela de agir conforme nossa própria vontade, ou poderíamos aceitar um conhecimento de ordem superior ao nosso, tomando parte da mente de Deus por meio da realização da vontade Dele. Embora Ele seja condição de nossa existência, quer o neguemos ou não, não somos condição da existência Dele. É por isso que nosso conhecimento de Deus não ocorre da forma tradicional, relação sujeito-objeto. Para explicar nosso conhecimento de Deus é necessário que concebamos uma relação diferente de conhecimento, porque Deus não se poderia jamais colocar como objeto de investigação das criaturas Suas. Podemos interpelar a vontade de Deus, conforme revelada, mas não podemos interpelar sua pessoa, como fazemos a um objeto de estudo.
O fato de nos perguntarmos sobre nossa existência mostra como fomos trazidos a ela por uma pessoa muito superior a nós. Jamais poderíamos conceder a liberdade de fazer tais indagações a algu que criássemos, somente poderíamos colocar em sua boca nossas próprias dúvidas a esse respeito.
Então, prosseguindo, o rapaz, ironicamente fadado a andar pela rua escura, cabisbaixo, tem em sua breve existência (que já conta de cinco minutos completos) uma série de problemas filosóficos, gramaticais e políticos com os quais deverá se haver um dia, caso venha a fazer perguntas bastante apropriadas a um rapaz inteligente que por um acaso venha a deparar-se com um volume de filosofia ou teologia, e poderia então revoltar-se contra aquele que lhe conferiu essa existência não empírica de ente puramente intelectual. Supondo que o faça, ficaríamos bastante surpresos com tamanha ingratidão, em especial considerando que o criamos faz pouco mais de seis minutos, agora.
Seria, no entanto, muita arrogância esperar qualquer espécie de reconhecimento por parte do rapaz que anda cabisbaixo pela rua. Ou não? Se, dentro de nossas possibilidades, fomos benevolentes o suficiente para conceder-lhe existência, o rapaz poderia estar um pouco mais feliz. Todavia, poder-se-ia argumentar que o rapaz anda cabisbaixo porque, conforme o criamos, não poderia andar de outra maneira. É bem verdade que não conseguiríamos, dentro de nossas capacidades, fazê-lo dotado de alguma espécie de autonomima. Seria necessário um ente bem mais capaz do que eu para fazer um rapaz cabisbaixo que pudesse olhar dos confins de nossa mente para nós mesmos e erquer os punhos revoltado por estar naquela rua escura. Desse modo, qualquer revolta, além de inútil, seria uma impossibilidade.
Somos tentados a nos perguntar, após esta breve investigação, se não seria essa a principal diferença entre o rapaz cabisbaixo real e o imaginado. Falo do rapaz real porque é possível que enconremos em algum lugar no mundo um rapaz que atenda a essas condições tão simples que possamos chamá-lo, num sentido figurado, a tomar parte em nosso exercício. O rapaz real poderia então erguer os punhos em revolta contra sua circuntância. Ele possui um nome, e possui pensamentos que muitas vezes escapam a qualquer controle, inclusive o seu próprio. Ele existe independente de nossa vontade, tomamo-lo como um rapaz dado na realidade empírica. Este rapaz está andando em um mundo dotado de um senso de história não-cíclico, afinal o futuro não aconteceu, e o passado já está além de nossa esfera de ação. A ação e o pensamento acontecem no presente do rapaz que caminha cabisbaixo. Tudo que lhe é dado é dado agora. Seria então possível que seu futuro fosse determinado ou sequer conhecido?
Para que um futuro seja conhecido existem duas condições. A primeira é a observação da repetição de um evento. A segunda é a capacidade de produzí-lo. Se alguém for poderoso o suficiente para garantir que um evento se produzirá no futuro, poderá ser um cientista. Se essa pessoa pode produzir todos os eventos que de fato ocorrem no universo, essa pessoa é necessariamente Deus. Isso deixa pouco espaço para o indeterminado. O espaço de ação que teríamos seria muito pequeno, se houvesse algum. Seríamos ontologicamente iguais ao rapaz cabisbaixo imaginado. No entanto, cremos que não é assim. Somos livres para realizar ao menos uma grande escolha dentro dessa ordem de coisas. Nossos atos de volição não são determinados por nada além de nossa própria capacidade de imaginar, de modo que a natureza não pode refrear o gênio humano com sua necessidade absoluta. Desafiamos o meramente orgânico a todo o tempo, e isso constitui a prova mesma da liberdade da qual fomos dotados para que fôssemos muito mais interessantes do que meros rapazes imaginados para investigações hipotéticas numa tarde de sexta-feira. Podemos acreditar nesse Deus ou não. Podemos acreditar Nele e ainda permanecer insubmissos, levados pela idéia de falsa liberdade que e aquela de agir conforme nossa própria vontade, ou poderíamos aceitar um conhecimento de ordem superior ao nosso, tomando parte da mente de Deus por meio da realização da vontade Dele. Embora Ele seja condição de nossa existência, quer o neguemos ou não, não somos condição da existência Dele. É por isso que nosso conhecimento de Deus não ocorre da forma tradicional, relação sujeito-objeto. Para explicar nosso conhecimento de Deus é necessário que concebamos uma relação diferente de conhecimento, porque Deus não se poderia jamais colocar como objeto de investigação das criaturas Suas. Podemos interpelar a vontade de Deus, conforme revelada, mas não podemos interpelar sua pessoa, como fazemos a um objeto de estudo.
O fato de nos perguntarmos sobre nossa existência mostra como fomos trazidos a ela por uma pessoa muito superior a nós. Jamais poderíamos conceder a liberdade de fazer tais indagações a algu que criássemos, somente poderíamos colocar em sua boca nossas próprias dúvidas a esse respeito.
Um comentário:
Tiago,
Volte ao Orkut!
Como você está? Espero que esteja tudo bem.
Beijos.
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