Faz uns poucos anos eu escrevi neste espaço sobre a sensação nova que era estar namorando. Desde entao passou muita água debaixo da ponte, me desencantei, mas acabei, pouco depois, por conhecer aquela que viria a prometer ser minha companheira pela aventura da vida.
Por conta disso vim parar em Dallas, como bem sabem meus amigos, e agora somos só os dois, como nos versos de Milton que tanto me tocaram quando li pela primeira vez:
"The world was all before them, where to choose
Their place of rest, and Providence their guide.
They, hand in hand, with wandering steps and slow,
Through Eden took their solitary way."
Eu achava que sabia o significado deles. Agora descobri qua não sabia nada. Os versos contam a queda do homem e a expulsão de Adão e Eva do paraíso. Com esta expulsão começa o relato bíblico da perigrinação do ser humano pelo mundo que "estava todo diante deles". O povo de Deus é um povo de peregrinos, e viver nesta terra, longe do Édem ou longe de Deus é peregrinar.
No entanto, Deus não nos colocou sozinhos nesta peregrinação. Adão e Eva tinham um no outro um companheiro de viagem que lhes deveria sustentar e cuidar. Mais do que isso, dividiam a vida um com o outro, conforme o mandamento divino.
Assim fica estabelecida a beleza e o caráter divino desta solidão a dois, quando, deixando o seio familiar, vamos empreender algo completamente novo, mas tão antigo quanto o primeiro homem e a primeira mulher.
Esta união é algo difícil de descrever. Precisa ser vivida. Somente ao entrar na dinâmica da entrega total ao outro, uma só carne, um só amor, é que podemos de fato compreender o casamento. Existem pessoas casadas ha anos que jamais compreenderam esta comunhão. Se esse laço for verdadeiro, será forte para que duas pessoas, "de mãos dadas, com passos vacilantes e devagar" enfrentem e reinem sobre o mundo todo diante de si.
É no casamento também que encontrei um lugar de descanso. Com a benção de Deus, por sua providência, pode o casal achar um no outro, apesar da natureza humana tão terrível, encontrar paz no colo da pessoa amada. Quando experimento esse laço vejo que nada pode ser mais importante preservar do que a união que coloca a nova família diante de Deus.
A experiência do casamento acontece no dia a dia, nos minutos em que esperamos pela amada, na hora de nos sentarmos à mesa e juntos contarmos como foi o dia, nas caminhadas, nos sorriros disfarçados que só nós sabemos o que significam. Eu costumava escrever muito sobre o amor em abstrato, construindo um amor em minha mente que por sua constituição assaz etérea não poderia achar meios de tocar o chão sem se desfazer. Creio que hoje, casado, encontrei algo ainda mais sublime e mais alto.
Quando encontrei uma mulher da qual percebi que não conseguia ficar por um dia sequer distante, quando percebi que ela me seria fiel e verdadeira sempre. Quando vi que não me escondia nada, e que eu já não tinha nada a esconder dela, eu a beijei, tomei sua mão, e vagarosamente iniciamos nossa peregrinação pelo desconhecido.
quarta-feira, agosto 22, 2007
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Um comentário:
Parabéns ao casal. Esse foi um belo post, não se lê muita coisa assim por aí. A relação descrita chega a ser surpreendente. Parabéns por a terem construído.
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