Assim que chego ao aeroporto de Guarulhos, um pouco grogue de sono e com as pernas ainda mal acostumadas à atividade que lhes deveria ser própria (viagens sempre as deixam assim por falta de uso), vou me embrenhando na massa de passageiros, os quais descem do ônibus e permanecem aglomerados e ansiosos ao redor do motorista que descarrega as bagagens. Minha mulher e eu trocamos um olhar cúmplice e já sabemos que estamos ambos precisando de um cigarro antes de passar as próximas vinte horas em uma série de zonas em que o uso de tabaco é uma ofensa passível de reprovação popular nunca disfarçada, bem como punição por parte das autoridades. Pegamos nossas malas e nos sentamos lado a lado em um banco próximo.
Tão logo acendo meu cigarro, enquanto ela procura não sei o que em sua bolsa, um guarda parado em frente à porta de entrada, a uns bons metros de distância, emite um assobio alto. Trata-se desses assobios incriminatórios que logo reconheço ser dedicado especialmente a mim. Em seguida ele assobia novamente e faz o gesto de levar dois dedos à boca. Não faço caso do fato de o sujeito usar este método de comunicação normalmente reservado a cães, cavalos e outros quadrúpedes (embora tenha me ocorrido olhar uma segunda vez para o guarda a fim de me certificar de que não se tratava de um quadrúpede o próprio guarda que me repreendia); entendo o recado e vou devagar para um canto no fim da calçada, onde me aguarda o resto da congregação de fumantes, devidamente banidos do resto espaço público - reservado a uma classe melhor de pessoas. Logo chega minha esposa e começamos a fumar lado a lado, em paz.
Cinco minutos depois, olho curioso para o guarda em seu posto. Ele parece impaciente. Lança um olhar porta adentro e logo sai mais um rapaz fardado. Trocam duas palavras e o guarda caminha decidido em minha direção, deixando o outro em seu lugar. Em ato contínuo, ele passa por mim sem sequer parecer me ver, pára pouco mais adiante, puxa um cigarro, ascende e solta uma baforada, visivelmente aliviado.
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