terça-feira, janeiro 04, 2005

Verão 2004/2005...

Estive na praia por uma semana com uma gente muito agradável e divertida. Voltei bronzeado e um bocado contente. Talvez não tenha sido tudo rosas, mas esta é a impressão geral. Ao invés de ficar tentando rememorar o que aconteceu e escrever um breve diário de viagem, achei por bem publicar algumas notas que tomei em diversos momentos daquela semana, conforme me dava vontade e tinha a pena à mão. Essas poucas notas são um testemunho muito mais honesto e preciso de minhas impressões do que qualquer narrativa a posteriori jamais poderia ser.


Música das Ondas

Ainda que não seja a primeira vez que faço notas da praia, é a primeira vez que tenho a audácia, tendo em vista a probabilidade de receber críticas diversas, de escrever na praia. O barulho das ondas embala o ritmo da pena, a escrita sai vagarosa e rítmica.

Nada mais natural. As ondas também respeitam esse ritmo determinado por algum mistério que não ousaria sondar, elas o imprimem, por sua vez, ao caminhar sinuoso e macio das mulheres que passam. Tudo que vejo na praia parece compor um sistema harmônico cujo propósito principal é deleitar os meus sentidos.

Seria lugar comum dizer que o litoral brasileiro transpira sensualidade. Evitaria essa repetição se pudesse, mas não consigo evitar o comentário diante da topografia feminina que se desvela diante dos meus olhos.

Sabe-se lá por que motivo me ponho a prosear dessa maneira. Não arrisco palpite mais ousado do que o de que fui inspirado por toda a romântica atmosfera que me cerca, aliada à alegria do sol que achou enfim por bem fazer uma visita. Em momentos assim poderia facilmente me deixar encantar pela música do vento e me perder no mar.

Cambury, 30.12.04



É dolorosa a contradição de desprezar aquilo que desejamos. É uma necessidade que temos para aplacar a condição grave e avassaladora de ser que deseja, e que o faz desmesuradamente.
Por pior que possa ser, tudo isso desaparece ante à sensação de vazio, solidão e egoísmo de ver o desejo realizado. É por isso que só os santos são felizes.

Cambury, 30.12.04



Soneto sombrio

Os vis fantasmas das memórias mortas
nada fazem senão triste figura
por ter rompido os laços de ternura
com os vivos, fecharam-lhes as portas

E as trilhas escuras, sendas tortas
desprovidas de amor ou de candura
são percorridas pela luz escura
destas memórias sôfregas e rotas

Sua existência efêmera e negada
pelo implacável mal do esquecimento
a sua morte nunca anunciada

sem aflição, sem dor, sem sofrimento
são a extensão do quanto lhes invejo
melhores que esta dor que sinto e vejo.

Boiçucanga, 29.12.04


Observações impertinentes: Carol e Eduardo, obrigado pela leitura dos originais, vocês foram muito gentis. Agradecimento ainda a Carol e Cecília por me inspirarem a escrever o primeiro texto, meramente por estarem lá. O caput tem a mesma data do post.

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