O amor é um jogo repleto de possibilidades, especialmente possibilidades perdidas. Olhar para trás e relembrar as frágeis construções do “que poderia ter sido” é uma disciplina profundamente reveladora do caráter. Aqueles em paz consigo mesmos são capazes de enxergar nas possibilidades perdidas um gentil sussurro de algo que não teria razão de ser, como um raio tímido de sol numa madrugada fria. Aqueles presos ao presente são incapazes de olhar para trás e compreender sequer que fizeram escolhas, deixaram possibilidades para trás, as quais moldaram suas vidas talvez mais do que as escolhas que fizeram. Aqueles presos ao passado ficam acordados à noite, imaginando mil decisões que os teriam feito felizes. Aqueles imersos em solidão contemplam o passado e o futuro indiferentemente, com uma resignação sombria diante de ambos.
Talvez a única coisa mais cortante do que o amor que sentimos seja o amor que perdemos. Quando o amor acontece, nosso senso de proporção é satisfeito: o homem é para a mulher e ela para ele. Quando se perde o amor, aquele pesar conformado que nos aflige, o suspiro profundo, a tristeza que nos abate, a dor que chora conosco, deixam tudo mais bonito. A beleza desse instante único em que percebemos a oportunidade perdida, o átimo de tempo em que em que o amor nos foge das mãos, é o que há de mais sublime e belo no tempo do coração. No fim, o que nos resta é o consolo de que onde morre o amor, nasce a beleza. Os corações sacrificados, os amores perdidos, as lágrimas contadas: a eles brindamos e bebemos ao chegar a noite.
terça-feira, fevereiro 15, 2005
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