Minhas incursões pela filosofia do sexo e da morte de Schopenhauer tem sido uma influência grande demais no que escrevo para não começar a incomodar. Todavia é irresistível a tentação de escrever desse modo, uma vez que é uma filosofia que atiça a paixão, fala à sensibilidade, parece ter a dor como tema central, e é no mais bastante intensa em repercussões artísticas de valor indiscutível, a exemplo de Machado de Assis e Richard Wagner e suas respectivas obras.
Essa filosofia é uma filosofia da morte. A negação e única saída para o sofrimento é o fim da vontade de viver. As consequências dessa busca são irremediavelmente a morte ou a mortificação do corpo, que é uma morte em vida. É uma filosofia que nega o mundo para salvá-lo. É paradoxal e contraditória em um único ponto, que é justamente o seu ponto central, sua ética e ao mesmo tempo sua escatologia.
O impulso sexual que deriva da afirmação da vontade de viver e que tantas mudanças causou enquanto idéia no mundo, via Freud (o qual não deixa de dar a Schopenhauer o devido crédito), se faz sentir na minha própria carne, sem apêlo e sem perdão. Se me inclino a ele, nos termos desta filosofia, o faço porque negá-lo seria uma mortificação e eu, sem me importar com o alegado caráter ilusório da vida, quero mais vida a todo o instante.
Mas essa filosofia não esgota o mundo. Não existe nada pior do que começar a explicar seu pensamento com base numa obra filosófica isolada, muito menos uma de consequências tão devastadoras quanto esta. Procuro, nos momentos em que não estou chafurdando nas torrentes irresistíveis da vontade da carne, nesse infindável ato de Tristão e Isolda que é o mundo por elas compreendido, procuro aproximar-me do conhecimento de Deus.
É justamente esse que me parece mais fugidio. O conhecimento está escrito e é fácilmente encontrado em diversas línguas na Bíblia Sagrada. No entanto, embora expresso e público, o conhecimento de Deus é elusivo porque é o único que não exige somente dotação intelectual, mas um ato (voltando ao discurso que ha pouco criticava) de vontade que por sua vez exige a negação da vontade mesma, dessa vez não para a morte, mas para a vida.
Em Cristo o fiel nega a própria vontade e mortifica-a para que a vontade de Cristo se realize nele. Como disse o apóstolo Paulo, não importa que eu viva, mas que Cristo vive em mim. Essa submissão à vontade de Deus, infinitamente maior do que a nossa, é uma negação da liberdade de realizar a vontade para poder ganhar a liberdade das cadeias da própria vontade conforme a entendemos já à luz da Bíblia enquanto vontade da carne.
A filosofia de Schopenhauer, ao negar a Cristo e a Deus categoricamente, nasce já uma filosofia limitada a entender o homem enquanto pecador e perdido e o mundo como o reino do maligno. Tanto que para Schopenhauer o nascimento e transformação dos santos é incompreensível. Não admira que não pudesse entender o que torna um homem santo, uma vez que jamais deixou de entender o homem como limitado à determinação da vontade carnal e assim o entendeu de forma tão extrema que a elevou a idéia constitutiva e ordenadora do mundo todo. Essa posição, vista da concepção mais ampla que é fornecida pelas escrituras e pela fé, parece agora risível, uma vez que o mundo só é sofrimento e vontade quando se é escravo do pecado.
Dessa compreensão resta pensar no problema fundamental que é escolher entre o sofrimento Schopenhaueriano e a morte e renascimento em Cristo. Por mais torturante que seja o sofrimento constante, a escolha por Cristo é mais difícil porque não partimos dela, devemos buscá-la, e mais, buscá-la de coração, e ainda, buscá-la enquanto é tempo. Qualquer pessoa tão determinada, dado que esteja consciente das implicações de sua escolha, possui dentro de si um poder imenso. Espero que eu encontre as forças de empreender a busca, não pela compreensão destas coisas, mas pela vontade de abraçá-las por inteiro, conforme o caminho que resolva tomar por fim.
terça-feira, novembro 08, 2005
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