quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Sobre o violão, mas nem tanto.


Ultimamente tenho me voltado para o universo do violão clássico mais uma vez. Não que tenha me afastado tanto, mas acabei ficando muito tempo sem tocar por conta de um pequeno acidente pelo qual passou o instrumento e minha concomitante incapacidade de financiar sua reforma. Isso agora pertence ao passado e estamos novamente juntos, o violão e eu, de modo a enxer a casa novamente de ruídos que tento fazer passar por música.

Não estou sendo duro comigo mesmo. Sou um bom apreciador de música, modéstia à parte, e por isso não posso escapar de duas descobertas: a primeira é que eu era um violonista mediano, mas tocava corretamente; a segunda é que agora, enferrujado, não fui capaz de tocar uma única peça.

A tragédia me atingiu de forma um pouco dura, mas não sem resistência da minha parte. Pus-me a estudar exercícios de técnica e vou voltar a exercitar a leitura em breve, e é aí que eu queria chegar...

É deprimente a sensação de ser anlfabeto diante da partitura, ou de ler com grande dificuldade
, como estou fazendo agora. Olhar os simbolos e ter apenas uma vaga lembrança do que significam, incapaz de corpo aos caracteres, corpo sonoro, concretizando as idéias. Nada mais trágico, acima de tudo, do que me ver incapaz de concretizar as idéias que leio ou que de um modo ou de outro concebo.

Ora, talvez pareça bobagem da minha parte, mas esta forma de confinar minha existência musical por esta deficiência (espero que temporária) causa uma angústia esquisita, misto de impaciência e impotência patética. Fico a pensar sobre o problema. Será que antes me preocupava não poder ler as tais notas? A faculdade que tinha foi adquirida já um pouco velho (em comparação, injusta para mim, é verdade, com instrumentistas de nível bom), e não me parece que tenha tido qualquer problema em viver sem ela. Mas não me veio sem esforço. Os momentos debruçados sobre as partituras, violão nas mãos ou em frente ao piano (mas isso é outra história) me sairam caros, especialmente depois que vi meus sonhos musicais darem lugar à promessa de uma carreira jurídica, apesar do prazer que proporcionaram.

Assim, minha tristeza se dá por conta da perda, não da ignorância. Às vezes me incomodava ver que muitas pessoas passavam muito bem suas vidas sem pensar muito a respeito de nada menos imediato. É claro que me dirão que pensar todos pensamos, que sou intelectualista, mas então qual é o problema? Não creio que seja o único ser humano incomodado pela ignorância, própria ou alheia. Aliás, acho que não tenho mais tolerância para comigo mesmo do que demonstro para com os outros. Porém, existe algo que me diz que a ignorância é ruim e a sabedoria é excelente (a Bíblia certamente o diz, o que não tem exata relação com a intuição que tenho a respeito).

Bem, a busca por conhecimento não parece ser algo com que todos concordam. A grande maioria das pessoas, se formos ver a fundo, preferirá a ignorância com felicidade do que a sabedoria sem ela, mas a idéia de viver no mundo sem pensar sobre ele me parece uma atitude tão genuinamente bovina... Atitude que explica muita coisa, como a tendência do vulgo para o pior, mas cuja raiz não se explica com facilidade.

A presente digressão era a intenção nesse post. O meu incômodo não é o de um sábio, advirto. É de alguém que luta para vencer a própria ignorância. Mas então por que sinto falta da sabedoria que não tenho, se nunca senti falta de ler minhas partituras quando não sabia? O que gera tamanha curiosidade em relação ao mundo e às pessoas, se no fundo sou mesmo um pouco averso ao contato social e com a natureza?

Entrei com algumas dúvidas e saí com mais um punhado delas. Então por que o exercício foi tão satisfatório?

Um comentário:

Unknown disse...

"...a primeira é que eu era um violonista mediano, mas tocava corretamente; a segunda é que agora, enferrujado, não fui capaz de tocar uma única peça."

Tiago, não acredito! Sofro do mesmo mal que você.

Beijos.