quarta-feira, agosto 06, 2008

De volta à carga

Não escrevi aqui ao longo de um bom tempo. Isso acontece e quando em quando. Seria fácil demais empinar o narizinho e dizer que "O que não se pode falar, deve-se calar". A verdade é bem distante das sofisticadas tentativas de enfiar o mundo dentro de uma forma lógica - embora deva reconhecer que o conteúdo da citação é tão verdadeiro quanto evidente. O caso é que estive físicamente cansado demais para dedicar qualquer tempo a uma atividade que foi, durante um longo período, a forma mais rica de contato com o mundo que tive.

Parte do problema se deve ao fato de que estive lutando com alguns volumes de filosofia que restam mal digeridos na cabeça, o que por algum tempo me pareceu mais interessante do que o prazer de dizer qualquer coisa, por mais importante que fosse. Não tenho, no entanto, coragem e nem vontade de abandonar esta página às moscas. Fui acordado do meu sono mental pelo anúncio do post abaixo, o lançamento da nova página do Olavo de Carvalho. Quem conhece a obra do filósofo e lê a minha modesta página sabe que ele em muito me inspira e - embora jamais o tenha conhecido - gostaria muito de pensar que sou de algum modo seu aluno.

O segundo elemento que me pôs novamente a escrever foi o efeito levemente anestésico do estudo, ainda que em seu princípio, de Ludwig Wittgenstein. A maneira pela qual ele dissolvia problemas filosóficos por meio de sua terapia, por estranho que pareça, aliviou um pouco o peso do torvelinho de leituras e acontecimentos políticos e sociais que estavam a pôr-me louco. A serenidade com a qual Wittgenstein coloca todo em volta de lado e vai tratar da forma de vida da linguagem ajudou em muito a necessária tarefa de assumir uma perspectiva diferente diante dos fatos, recompor as energias retornar revigorado ao ciberespaço. Quando tiver que cuidar das outras tantas formas de vida nas quais estou metido, aí a porca vai fumar, mas deixemos as agonias de lado. Se não escrever por prazer ou por necessidade, por que seria?

Como de boas intenções o inferno está cheio, já fomos logo reformulando o blog - modestamente, como manda o bom conservadorismo - incluindo alguns links e excluindo outros, e tentaremos em breve ousar ainda mais.

Estou preparando uma provocaçãozinha sobre o culto em diversas igrejas agora que estou a uma distância segura para fazê-lo. Logo sai. Assim como outras coisas interessantes que nos ocorrerem no caminho.

Pedidas as desculpas, estamos de volta.

4 comentários:

Wanda Maria Alckmin disse...

Tiago,

outro dia eu estava pensando sobre a causa da popularidade dessas igrejas evangélicas no Brasil e a conclusão que cheguei foi a seguinte: Elas simplesmente suprimiram o vocábulo "sacrifício" de seus ensinamentos, é um cristianismo amputado de uma de suas maiores virtudes. A religião, para esses fiéis mal-orientados se apresenta de uma forma egoísta e profana. Como ser caridosos se não souberem o que é o sacrifício pelo próximo? O egoísmo, nota dominante da sociedade moderna, reduziu muito o apelo do verdadeiro catolicismo.
Grande abraço,

Bernardo Camargo.

Wanda Maria Alckmin disse...

Tiago,

outro dia eu estava pensando sobre a causa da popularidade dessas igrejas evangélicas no Brasil e a conclusão que cheguei foi a seguinte: Elas simplesmente suprimiram o vocábulo "sacrifício" de seus ensinamentos, é um cristianismo amputado de uma de suas maiores virtudes. A religião, para esses fiéis mal-orientados se apresenta de uma forma egoísta e profana. Como ser caridosos se não souberem o que é o sacrifício pelo próximo? O egoísmo, nota dominante da sociedade moderna, reduziu muito o apelo do verdadeiro catolicismo.
Grande abraço,

Bernardo Camargo.

Tiago Ramos disse...

Caro Bernardo,

O crescimento das igrejas evangélicas no Brasil foi algo que chamou a atenção de muita gente, em especial depois da notoriedade da Igreja Universal do Reino de Deus e do envolvimento de seus “bispos” (ai caramba, os caras são episcopais, então? Nunca tinha pensado a esse respeito) com política, grande mídia e outras coisas afins.

Entre o meio evangélico, a principal distinção feita por membros e líderes de igrejas mais tradicionais é aquela entre crescimento e inchaço. Algumas denominações experimentaram um crescimento muito maior do que outras entre os evangélicos e seria precipitado coloca-los todos no mesmo saco. Seguramente as igrejas que mais cresceram, ou que na verdade incharam, foram aquelas ligadas a dois movimentos que tiveram grande destaque no evangelicalismo dos últimos 25 anos, creio eu: o movimento de batalha espiritual e a teologia da prosperidade.

Meus problemas com o movimento de batalha espiritual são ligados à falta de base bíblica e seu apoio em experiências pessoais ao invés da Escritura. A teologia da prosperidade, que aqui nos EUA também é um bocado comum, é a mais preocupante, pois coloca o foco da atenção do fiel nas graças recebidas, nos favores, no progresso material, na cura, ao invés de fazer da glória de Deus o principal objetivo do crente. O foco está no "eu", só creio por que funciona para minha vida, é a mentalidade desse pessoal. A combinação destes dois movimentos, com grande ênfase no sobrenatural – algo que apela bastante até mesmo a parte dos católicos brasileiros, cuja fé está, em boa parte envolvida em mística (não lembro se foi Sérgio Buarque de Holanda ou Gilberto Freyre quem reparou nisso, ou se foram ambos) – é a principal responsável pela imagem que você critica (feitas estas ressalvas concordo com você) e acaba dando mau nome a muitos evangélicos que possuem plena consciência da noção de sacrifício por Cristo e pelo próximo.

O outro lado deste fenômeno não tem nada a ver com os evangélicos. A Igreja católica está despertando para um grande crescimento dos evangélicos somente agora, mas por muitos anos não se preocupou com seus fiéis. O Brasil sempre fora um país católico, e não houve, durante muito tempo, quem desafiasse a hegemonia da ICAR. O trabalho persistente dos primeiros evangélicos no Brasil, apesar de terem sofrido um bocado e resistido um ambiente cultural majoritariamente hostil (até mesmo eu, que sou bem jovem, já tive que ouvir: “Como você pode ser evangélico? Você é tão inteligente...”), está finalmente dando frutos. Ponha-se também na conta dos católicos uma coisa que um professor meu, por sinal católico, colocou muito bem: os padres foram se ocupar de fazer política, cuidar de apoiar sem terra, se misturar com sindicalistas, e se esqueceram dos fiéis. Não seria justo generalizar, mas muitas vezes foi o caso. Seria fácil acusar os “evangélicos” como um grande grupo uniforme de ter corrompido os caridosos católicos brasileiros, mas isso não só compromete a seriedade da análise, como impediria os próprios católicos de agir em seu próprio interesse, atacando também as causas do fenômeno dentro da própria Igreja.

Quanto às questões sobre a caridade, dois pontos: Primeiro, a igreja evangélica tem uma longa história de obras sociais (só não é mais longa por conta de sua curta existência). Os pentecostais tradicionais (a maior denominação evangélica brasileira não é adepta da teologia da prosperidade, mas é em sua maioria pentecostal) possuem uma preocupação muito grande com os menos favorecidos, e creio que todas as denominações, mesmo a Universal, têm feito muito na área social. Segundo, mesmo que não fosse esse o caso, as boas obras, conforme a leitura protestante da Bíblia, não salvam por si mesmas. Elas são uma das marcas que nos permitem mostrar a obra transformadora de Deus em nossas vidas, não são parte constitutiva da salvação (os puritanos cometem um erro semelhante ao exagerar no culto á satidade pessoal). O dever de caridade é bíblico, a idolatria da caridade não. Este pecado foi o cometido, ao menos no discurso, pelos adeptos da teologia da libertação.

Atenciosamente,

Tiago

Wanda Maria Alckmin disse...

Concordo com vc quando diz que o catolicismo se afastou de sua vocação criando um vácuo que foi preenchido por essas seitas, mas quando falo de evangélicos não estou colocando todos os protestantes no mesmo saco, estou me referindo aos Edires Macedos e similares.Continuo achando que o apelo principal dessas seitas é o egoísmo exacerbado da sociedade moderna, que como vc mesmo disse, criou a Teologia da Prosperidade.
O caminho católico é dificílimo de ser trilhado, há espinhos e obstáculos muitas vezes intransponíveis se não há uma entrega completa pelo fiel.O caminho dessas seitas é aplainado por essa Teologia materialista e sobrenatural desvirtuada que quando é levada a um ignorante é uma competição desigual, é covardia.
Abraço,

Bernardo.