sexta-feira, julho 08, 2011

Warren, Piper, Carvalho e esta besta que vos fala

Fiquei sabendo que John Piper está indo ao Brasil. Bom para o Brasil. Piper é um pregador excelente e um homem com uma paixão intensa pela glória de Deus. Ele nos reapresentou a uma faceta muitas vezes esquecida da fé cristã, a genuina alegria em Deus, e conseguiu fundamentá-la naquela característica que para o homem carnal seria a antítese da alegria, a absoluta soberania divina. Seu "Desiring God" é uma obra prima que demonstra, por parte do autor, uma compreensão sublime e, no entanto, quase velada da dialética fina que rege a relação entre nossa alegria e a soberania de Deus.

Admiro faz alguns anos o ministério de Piper. Ele foi tema de uma das conversas com o pastor Leandro Peixoto que me afetou profundamente. Aqui em Dallas fui novamente me nutrindo com o material da pregação dele e sou muito grato por isso. Tive, contudo, uma experiência curiosa que tem a ver com o Olavo de Carvalho. Farei o possível para atar estas pontas logo, antes que acabe o interesse do leitor.

Muitos meses atrás, o professor Olavo nos dizia que o brasileiro tinha um jeito muito gozado de admirar uma pessoa: admiramos quem tem mais força que nós (força intelectual, ou eu não estaria falando de Piper e Carvalho, mas de Terry Hulk Hogan e Lou Ferrigno), mas ao primeiro sinal de que a pessoa possua algum defeito qualquer, nos decepcionamos, baixamos os olhos, vestimos pano de saco e lançamos cinzas sobre a cabeça. Em seguida, já consideramos o fulano superado por nós, e sentimo-nos os gostosões, afinal descobrimos um defeito no que antes nos parecia tão belo e formoso. Ora, após ouvir esta aula umas tantas vezes, já estava certo de que jamais iria cair na besteira de me comportar como os imbecis que fazem estas coisas.

Quem adivinhar o que aconteceu em seguida leva um doce.

Entrei no www.desiringgod.org e fui recebido com um banho de água fria. John Piper fez uma das entrevistas mais chapa-branca da história recente, perguntando uma série de questões sobre doutrina cristã para o conhecido pastor-da-camisa-havaiana Rick Warren, e recebendo como resposta quse tudo o que ele, e qualquer calvinista que se preza, gostaria de ouvir. Só faltou perguntar a coisa mais importante: por que a obra e a pregação e a postura pública do fulano não concordam com todas as coisas bonitas que ele disse na entrevista?. Se você é fã do Rick Warren, por favor, pare de ler por aqui. Não vou me desculpar por afirmar que o sujeito é um charlatão (procure no Youtube os vídeos mostrando o homem falando uma coisa para sua igreja e depois descaradamente negando tudo para o Larry King na questão da Proposition 8). Mentir em um canal de TV a cabo visto por pessoas de todo o país foi apenas a mais recente presepada na folha corrida do mega seeker-sensitive church pastor. Ele é o rei das platitudes superficiais, que ele quer que acreditemos se tratarem de pregação do evangelho, e faz tudo em nome do propósito questionável de fazer com que toda e qualquer pessoa se sinta o mais à vontade possível para se juntar aos quadros inchados de seu mega-ministério. Quem conhece o ministério sério, a pregação profunda, ainda que divertida, e o esforço enorme feito por Matt Chandler para esvaziar os bancos de sua Village Church vai entender bem a diferença entre o mega pastor que deu a bênção à presidência Obama (dói o saco só de pensar) e um pastor de verdade como o Chandler (embora este seja, pelas minhas estimativas, bem mais novo).

Não se pode negar que o homem seja esperto. Ele é bom de papo, está determinado a agradar a dois senhores (e a quem mais ele conseguir), e consegue se manter sempre sorridente, superficial e em cima do muro. Imagine qual não foi a minha surpresa quando assisti uma entrevista de umas duas horas na qual Rick Warren usava o reconhecimento de John Piper no meio evangélico como papel higienico para limpar sua reputação.

Imediatamente levantei meus punhos indignados para os céus, naveguei a internet buscando opiniões de pessoas que estivessem tão iradas quanto eu (encontrei algumas). No dia seguinte fiz um discurso indignado no caminho para o trabalho, para o qual aluguei os dois ouvidos de meu insuspeito amigo Tony, que é ex adventista, ex cristão denominacional (Quem foi adventista pode mesmo dizer que foi cristão denominacional? Uma pergunta que ficará sem resposta neste espaço - embora, neste caso, a pergunta sozinha já deva ter ofendido muita gente) e presentemente judeu messiânico, e que, por conseguinte, não tinha nada a ver com o pato.

Passadas mais umas semanas voltei ao meu estado normal, estava ouvindo o Piper e lendo This Momentary Marriage, uma exposição magistral sobre o que é o casamento aos olhos de Deus e as conseqüências práticas disso para a vida dos casais (mais uma ponta solta que não terei ocasião de atar e ficará sem maiores elaborações - quem quiser que compre o livro), quando escutei uma aula recente do professor Olavo reiterando o aviso acerca da maneira torta que o Brasileiro tem de admirar. Me bateu uma baita culpa retardada pela minha conduta, e meus sentimentos mesmo, durante a fatídica semana da entrevista. Derrubei o Piper em minha mente e quis me achar melhor que ele, busquei apoio para minha estupidez em algumas opiniões colhidas na internet, botei banca de santo e defensor da família e da fé cristã ortodoxa... Uma miséria só. O filósofo conseguiu me pôr em xeque sem nem mesmo se dar conta. Chega a dar arrepio a maneira como o homem conseguiu ver exatamente o que estava se passando... sem saber o que estava se passando! Vivendo e aprendendo.

Me senti um bundão, um estúpido (e alguns dirão que este deve ter sido um de meus raros momentos de clareza - devem ser fãs do Rick Warren) e aprendi um pouco mais sobre orgulho intelectual, sobre a diferença entre moralidade e moralismo e sobre mais uma razão pela qual fazer parte do Curso de Filosofia do professor Olavo foi uma decisão acertada. Não fosse pelo puxão de orelha, eu teria morrido com a convicçao imbecil de que minha (inexistente) santidade era algo mais que uma invenção diabólica.

Continuo não gostando do Rick Warren e o que ele representa. Continuo não entendendo o porque da tal entrevista. Estou, contudo, profundamente arrependido pela minha reação. Achei a coisa toda tão instrutiva que resolvi compartilhar com qualquer interessado, assim algum bem se faz dessa porcaria toda.

Em suma, se puderem, vão assistir o Piper no Mackenzie quando ele for ao Brasil. Vale muito a pena.

Nenhum comentário: