Os dias mais negros da vida são sempre precedidos por momentos de alegria e despreocupação. É daí que vem a recomendação bíblica: sede sóbreos e vigiai. O estado de vigília é condição para sobreviver, seja no mundo dos vivos, da luz e do dia, seja no mundo sutil no qual a alma habita lado a lado com os mistérios.
Hoje o mundo dá suas voltas conectado por cabos, circundado por satélites, iluminado, ponta a ponta, pelo conhecimento humano e pelas obras homens. Nossas mãos dão nova forma a variados cantos da terra, e cada vez mais, enquanto nos fascinamos com as obras de nossas mãos, enquanto cada vez mais aspiramos tomar o trono de Deus e anunciamos sua morte ou negamos que sequer tenha tido existência, deixamos para trás a beleza e a importância dos mundos sutis. O nosso tempo padece e os problemas que se tenta combater não passam de sintomas. O espírito humano é que está doente, cego pelo poder das mãos, obscurecido pela técnica e em busca de absolvição fácil por seus vícios mais profundos.
Talvez o sinal mais claro de que estamos lançados nas mãos do determinismo sinistro da escravidão pelo desejo seja o extremo relativismo moral, religioso, ético e filosófico reinante. Não é possível dizer em voz alta que existe um bem e um mal, um certo e um errado, um justo e um injusto, a despeito das opiniões humanas que só fazem mudar sem ser chamado de fundamentalista, ou de intolerante.
Posso estar enganado, mas costumava-se ter aspirações mais altas do que a mera vontade de ser tolerante e políticamente correto. Os princípios perenes são ridicularizados por nossa geração corrupta para que possamos conviver com nossa própria corrupção. É um processo de aniquilação da consciência.
Essa corrupção é uma doença espiritual. E nesse tempo em que a doença é mais grave, tanto mais os sintomas dos quais o mundo padece são diagnosticados a partir da negação do espírito que é deixado para sofrer ainda mais. Esquecemos do tempo em que podíamos transitar por entre nossas consciências perguntando o que era certo e tínhamos a liberdade de fazer o errado. Hoje em dia não há pecado, tudo o que você tiver vontade de fazer é certo. E depois todos se espantam com a fragilidade dos sistemas de argumentação moral e com as barbaridades cometidas sem motivo aparente.
Esse mundo precisa de Deus desesperadamente e só faz negá-lo. O homem precisa salvar a sua alma para só então encontrar paz e graça. A alternativa é ser escravo do desejo, é negar a própria liberdade sem nem ao menos admitir que há escolha. Não vigiamos mais. Agimos como se não houvesse amanhã, nem juízo. Que Deus tenha piedade de nós.
domingo, maio 01, 2005
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