Hoje estive pensando em minha avó. Com toda sua simplicidade, ela descrevia, ao longo de nossas conversas longas e agradáveis, o que esperava encontrar quando chegasse ao céu. Minha infância foi povoada dessas imagens relatadas por minha avó. Eu ficava escutando, entre curioso e divertido, enquanto ela imaginava, ou talvez antevia, as pessoas que encontraria e a alegria imensa que sentiria ao lado de Deus.
Eu ficava intrigado e tentava entender como vovó conseguia passar cada dia, o dia todo, entretida com esta visão extraordinária. Em sua simplicidade o exemplo de minha avó foi marcante porque ela soube perseverar por anos a fio, lendo a Bíblia com atenção e refletindo sobre o que lia, imaginando e sonhando com as peregrinações do povo de Israel, muitas vezes associadas com as peregrinações dela própria pelo Brasil, de norte a sul buscando um lugar para descansar.
Quanto tempo levei para entender a alegria e o gozo que ela sentia nesses momentos. Quanto tempo levei para enxergar um pouco do que ela mesma me falava, antes de antever a felicidade que aguarda no céu aqueles que foram separados por Deus e salvos por meio do sacrifício de Cristo!
A sabedoria verdadeira residia ali e eu não era capaz de reconhecê-la. Em ler a palavra de Deus, anunciá-la e esperar pela partida desse mundo. Aguardar uma existência muito mais perfeita ao lado do pai. A partir do momento em que comecei a enxergar estas coisas entendi a razão para a insistência de minha avó em falar a todos quantos queria bem sobre o céu que esperava. Uma vez que percebemos que esta vida não é nada perto do que Deus guarda para nós, queremos rever no céu todos aqueles que amamos nesta terra.
Eis onde está nossa esperança. Está onde não pode ser maculada pelo pecado, consumida pelo fogo da guerra ou devastada pelo gelo da indiferença humana. Tal intuição, longe de irracional ou emotiva, me veio após muito pensar. Não fui o primeiro nem serei o último a ficar perplexo diante desta maravilha da palavra de Deus, que se revela aos simples e também, embora ás vezes com mais dificuldade, aos orgulhosos estudiosos – ensinando a estes a humildade diante da contemplação da sabedoria divina. Foi dessa maneira que o apóstolo Paulo se viu diante da mensagem do Evangelho, sem se envergonhar, mas afirmando, do alto de todo o entendimento que reconhecidamente tinha: “porque conheço (oi=da) em quem tenho crido e estou persuadido (pe,peismai) que ele é poderoso para guardar meu depósito até aquele dia” (2Tim. 1:12).
O texto revela duas coisas importantes: a persuasão da verdade do Evangelho, e a esperança da recompensa ”naquele dia”. Creio que é um pouco vazio ficar discorrendo somente sobre a primeira parte (como venho fazendo um pouco por gosto um pouco por afinidade com o assunto). Já afirmei de diversas formas que fui persuadido do simples mistério da piedade sobre o qual escreve o apóstolo Paulo: “Deus se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto pelos anjos, pregado entre as nações, crido no mundo, recebido na glória.” (1Tim. 3:16). O que não havia falado ainda era sobre o êxtase provocado pela esperança no futuro. Dessa maneira procuro corrigir-me e afirmar sem vergonha alguma que espero pela vida eterna após a morte, quando serei, com tantos outros, recebido na glória de Deus.
A felicidade só existe realmente depois que conhecemos o amor de Deus. Esse é o único testemunho que posso dar. O que quer que possamos experimentar de bom neste mundo é uma mera sombra do pouco que hoje antevejo, do que minha avó me descrevia, da vida que povoa meus sonhos, da esperança que me sustenta a cada manhã e ao longo do dia até que este finde, da glória eterna, da companhia do Altíssimo e dos seus santos.
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2 comentários:
Tiago, estamos aqui, vovó e eu, pr. Leandro. Ficamos maravilhados com a sua sensibilidade. Mais maravilhados ainda com a semente que germinou, criou raizes e cresceu. Semente que a vovó plantou e regou com muito carinho e oração. Ela me contou sobre todas as histórias bíblicas lidas para você e do quanto sente saudades daquele tempo. Continue combatendo o bom combate da fé. Beijos a você e Aline. Com carinho, vovó Cecília e pr. Leandro.
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