Eventualmente surgirão aqui algumas folhas que escrevi faz algum tempo. Tentarei manter as folhas com a data original a menos que eu não tenha anotado nada quando escrevi. De todo modo serão ao menos um mês anteriores à criação deste blog. Este é o primeiro deles...
A sensação do fim inevitável oprime o coração até que lágrimas sejam vertidas pelos olhos, mostrando aos nossos próprios sentidos que estamos fadados a sofrer. É necessário que soframos, precisamos amar e sofrer, buscar e assim viver histórias que valham a pena ser contadas. Só quem amou sabe a medida da dor que colhe quando afinal se percebe solitário.
O inevitável fim de todo amor é fenecer, a menos que pudéssemos viver para sempre. O amor que perdura é o que foi concebido nas cabeças e corações dos poetas, mas esses, os que realmente importam, foram os que mais viram o amor morrer, e morreram cada dia um pouco junto com ele, e sofreram como ninguém saberia sofrer, e beberam sua dor e a escreveram. Assim, os poetas avisaram o mundo todo o quanto dói amar, avisaram que amar é morrer, mas o fizeram de tal forma que jamais ninguém poderia achar que o sofrer fosse tão lindo.
Se eu fosse um poeta iria gritar pela rua: Não amem, não chorem de amor, se dêem à solidão, que é companheira fiel, a única na vida do homem. Não amem porque o amor nos vai perder a todos, num grande suspiro, num grande abraço sem fim e num singelo beijo de despedida.
Não há porque amar, mas não há por que querer ser só, há de se querer e se sentir e se chorar até o fim do dia. Já não há escolha, estamos fadados a sermos sós, chorarmos sós e bebermos juntos, todos, como uma grande irmandade de estranhos, que conhecem bem as dores que dividem tão bem como o fundo do copo que vêem. Brindam às mulheres que os esqueceram e as que quiseram esquecer, que bem podem ser a mesma mulher. Mas que importa? Existe algo mais profundo e mais sutil do que o amor, mais perene que o amor, mais notável e constante nos corações que já sangraram suas mágoas sem socorro. Existe a tristeza.
É melhor ouvir um coração angustiado do que um apaixonado, pois, parafraseando o sábio, o primeiro mostra o fim de todas as coisas, o segundo mostra apenas o princípio que nada revela de previdente, mas sim de inconseqüente e cheio de esperanças, como somos todos quando amamos. Quem está sozinho sabe do que falo, mas esse escrito se destina a quem está amando, e se vier eu mesmo a amar, e me sentir amado, invencível, confiante, é bom que leia sobre os dias ruins em que restei sem amor, cuidado ou companhia, para saber que a queda vem e será grande, e não me embriagar de amor demais, mas mastigar o frio pão do remorso, antes de perder a própria razão e sofrer mais do que puder suportar.
Tiago Ramos
30.06.2003
sexta-feira, outubro 22, 2004
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário