Engraçado quanta coisa a gente aprende conversando despretenciosamente. Aliás, não só sobre os outros mas sobre nós mesmos. Hoje eu conversava com um amigo sobre o tema mais importante para alguém na nossa idade: mulheres. Evidente que fizemos as reclamações de sempre, na melhor tradição de bons solteiros que já levaram muito fora na vida e que não estão nem longe de acabar de levá-los. Em meio a tudo isso fui passando em revista as mulheres que me desprezaram ao longo dos meus curtos dias de conquistador barato e rememorando as próprias sensações que tive em cada episódio.
Foi impagável. Além de rir um bocado de mim mesmo (sim, eu não me levo a sério, se não já teria me matado) tive uma dessas epifanias e me dei conta de uma verdade profunda a meu respeito. Foram, portanto, minutos de esforço intelectual bem empregados. Qual foi a descoberta? - perguntará algum leitor mais atento. Digo já: é que eu tenho medo de mulheres inteligentes.
Todas as vezes em que uma mulher me fez arrepender de ter nascido, ela era inteligente. Muito provávelmente mais inteligente do que eu. Ao longo de tempo percebi esse evento mas nunca havia me dado conta de verdade. Até hoje.
O fato é que as mulheres inteligentes são assustadoras. Elas leram mais do que você, conversam melhor, ridicularizam seus usos e costumes tipicamente masculinos e o fazem de tal modo que você não se sente autorizado a protestar. É como se você tivesse culpa por ter nascido homem, por não ter a capacidade de admitir o que sente e por não entender quando elas passam alguma dica sutil pelo olhar ou pelo discurso. Uma mulher inteligente é perfeitamente capaz de te enganar sem que você perceba. Não é que ela vá te enganar, mas existe sempre essa possibilidade e você não vai saber (essa paranóia tem jeito de ser daquelas que vou carregar por alguns anos e agora que está publicada não vou ser o único).
Eu francamente não consigo compreender por que desígnio dos deuses essas mulheres aparecem para te aplicar algum tipo de lição de vida que é necessáriamente traumática. Ficava me perguntando que é que elas procuram em nós. Só por que temos algum verniz de refinamento não quer dizer que conseguimos fazer frente a um intelecto que é tão diferente do nosso(para não dizer superior). Temos que nos desdobrar para tentar nos antecipar um segundo a elas e falhamos vergonhosamente - o que resulta em dizer algo muito estúpido no pior momento possível.
Mas o diabo é que ao mesmo tempo que tenho medo de mulheres inteligentes, não posso deixar de sentir tesão por elas. Existe algo na maneira como elas me diminuem que estimula um masoquismo que eu desconhecia. Fico encantado com o desafio intelectual e nem vejo a chegada do momento em que elas se cansam de brincar comigo e arrancam meu coração com a frieza de um burocrata soviético. Dramático? Foi só uma ilustração... Existe algo além do tesão, é claro. Elas são interessantes, a conversa não se pontilha de silêncios desconfortáveis, você não tem que fingir que é legal assistir Malhação diáriamente e que não liga de conversar a respeito do seu horóscopo do dia. Elas tem um senso de humor brilhante e você quase fica grato por ser frontalmente ridicularizado, por paradoxal que seja a sensação. Gosto de poder olhar para alguém sabendo que vou ser compreendido e essa é a beleza das mulheres inteligentes, ver nelas espíritos mais profundos do que o seu e sentir aquele gosto de mistério na boca.
Assim fico nessa sinuca de bico. Tenho pelas mulheres inteligentes esse misto de medo e tesão resultando numa explosixa carga que destrói as próprias bases de meu orgulho próprio. Continuo procurando minhas mulheres inteligentes, continuo sendo intelectual e sentimentalmente derrubado e, até agora, não aprendi absolutamente nada. Tudo isso em um dia de trabalho. Deixo então minha homenagem às mulheres inteligentes. Espero que a próxima que cruzar o meu caminho leve isso em conta e, ao partir, deixe ao menos uma dor mais doce do que as que precederam.
quarta-feira, outubro 27, 2004
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