Bem, o título auto explicativo do post evidencia o fato de que estou longe de minha base usual no misterioso interior paulista, terra de violeiros, rodeios, alta tecnologia e produção cultural efervescente. Me encontro na vizinha Paulínia, conhecida por sua notória indústria petroquímica e pela desconcertante política local.
Por aqui privo da companhia de amigos bastante queridos e estou sendo bem alimentado. Assim não vou escrever reclamando de nada. Meramente registro minha passagem por essas bandas de cá para preencher o tempo escasso com algo diverso do trabalho que deveria estar desenvolvendo. Esse antigo costume está com jeito de que vai perdurar por anos a fio, aliás. Nada tão grave. Meu futuro repousa sobre uma sólida fundação de sonhos e puro ar. Não, isso não me preocupa, meramente me anima a ser cada vez mais autenticamente eu.
Estou longe de casa. Não tão longe, mas qualquer distância é uma boa desculpa para falar de casa. Mas não me surpreenderia se um dia fosse embora de lá. Minha casa está onde estiver meu coração, e ele é mais inconstante do que eu gostaria que fosse. Sinto falta da minha velha vida, mas se não posso tê-la de volta não há porque manter o quintal, o pé de jaboticaba, o sol caindo na tardinha, o canto dos pássaros. Só preciso da memória, ela vai me bastar, ela vai ter que bastar.
Acho que nunca amei ninguém tanto quanto amei as lembranças. Espero que me sirvam de algo essas lembranças que amo. Se não servirem pra mais nada, espero que as esqueça. Aí quem sabe eu possa até amar alguém. Por enquanto sigo apaixonado pela criança que não fui mas a que acho que fui, com toda a minha gravidade no olhar já perdida e minha honestidade incondicional paulatinamente sufocada pela necessidade de mentir e de enganar. Especialmente de mentir para mim. Sou um traidor.
Se sou um traidor, não há por que continuar em casa, maculando o ambiente das lembranças que amo e das tardes pelas quais suspiro ainda hoje. Assim devo sair de casa para um lugar mais condizente com minha condição de rebelde expulso do céu. Mas nunca ouvi falar de anjo algum que tenha ido para o exílio de livre e espontânea vontade. Tudo bem, nunca fui anjo, só caído de meu infantil estado de graça.
Acho que nunca estive tão longe de casa..
sábado, novembro 13, 2004
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