segunda-feira, abril 24, 2006

Virtue, where art thou?

Querida Virtue,

Recebi seu coment e, embora possa dar alguns bons palpites acerca da sua identidade, não consegui uma indicação clara de qual fosse, nem de como entrar em contato por outro meio que não meu próprio blog. Quanto ao Orkut, veremos, veremos...

Um beijo,

Tiago

P.S. Aos demais leitores adianto que apagarei este recado tão logo fizer contato com esta amiga que procuro.

sexta-feira, abril 14, 2006

Se um rapaz cabisbaixo...

Um rapaz que anda cabisbaixo numa rua escura não tem nome. Não precisa de um. Sua função na ordem do universo é meramente ser um rapaz cabisbaixo cuja circunstância é andar por uma rua escura. Se lhe damos assim sem mais nem menos um nome, torna-se uma pessoa. Esse giro ontológico causa toda a espécie de problemas que eventualmente culminam na criação de um ou mais livros nos quais se desenrolam ações internas e externas devido à interação do rapaz com as circunstâncias nas quais está inserido. Procaria-se algum motivo para que estivese na rua, para que saísse da rua escura, dar-se-lhe-ia pensamentos sobre sua vida imaginada ou vivida, conforme o contexto no qual encontramos o rapaz (em um conto, por exemplo, ou no mundo real) e ele então colocaria o observador e fiel depositário do olhar sobre sua caminhada pela rua escura na difícil tarefa de revelar uma miríade de detalhes que o tornassem interessante ou ao menos um pouco mais humano. Tudo isso é necessidade, como dizia, gerada pelo ato simples de nomeá-lo.

Claro, um rapaz que precise ser nomeado não é um rapaz real. Um rapaz cabisbaixo de verdade possui um nome, e sem dúvida deve fazer bom uso dele a fim de "funcionar" no nosso mundo atual. É comum hoje, em relação aos rapazes cabisbaixos reais, o giro ontológico contrário. Um problema comum no estado moderno é justamente o fato de que está-se excluindo progressivamente o espaço para que rapazes cabisbaixos tenham nomes ou mesmo pensamentos. Isso seria acabar com a isonomia com a qual a burocracia democraticamente trata a todos. Trata mal, é verdade, mas é obrigada por lei a tratar igualmente mal.

Então, prosseguindo, o rapaz, ironicamente fadado a andar pela rua escura, cabisbaixo, tem em sua breve existência (que já conta de cinco minutos completos) uma série de problemas filosóficos, gramaticais e políticos com os quais deverá se haver um dia, caso venha a fazer perguntas bastante apropriadas a um rapaz inteligente que por um acaso venha a deparar-se com um volume de filosofia ou teologia, e poderia então revoltar-se contra aquele que lhe conferiu essa existência não empírica de ente puramente intelectual. Supondo que o faça, ficaríamos bastante surpresos com tamanha ingratidão, em especial considerando que o criamos faz pouco mais de seis minutos, agora.

Seria, no entanto, muita arrogância esperar qualquer espécie de reconhecimento por parte do rapaz que anda cabisbaixo pela rua. Ou não? Se, dentro de nossas possibilidades, fomos benevolentes o suficiente para conceder-lhe existência, o rapaz poderia estar um pouco mais feliz. Todavia, poder-se-ia argumentar que o rapaz anda cabisbaixo porque, conforme o criamos, não poderia andar de outra maneira. É bem verdade que não conseguiríamos, dentro de nossas capacidades, fazê-lo dotado de alguma espécie de autonomima. Seria necessário um ente bem mais capaz do que eu para fazer um rapaz cabisbaixo que pudesse olhar dos confins de nossa mente para nós mesmos e erquer os punhos revoltado por estar naquela rua escura. Desse modo, qualquer revolta, além de inútil, seria uma impossibilidade.

Somos tentados a nos perguntar, após esta breve investigação, se não seria essa a principal diferença entre o rapaz cabisbaixo real e o imaginado. Falo do rapaz real porque é possível que enconremos em algum lugar no mundo um rapaz que atenda a essas condições tão simples que possamos chamá-lo, num sentido figurado, a tomar parte em nosso exercício. O rapaz real poderia então erguer os punhos em revolta contra sua circuntância. Ele possui um nome, e possui pensamentos que muitas vezes escapam a qualquer controle, inclusive o seu próprio. Ele existe independente de nossa vontade, tomamo-lo como um rapaz dado na realidade empírica. Este rapaz está andando em um mundo dotado de um senso de história não-cíclico, afinal o futuro não aconteceu, e o passado já está além de nossa esfera de ação. A ação e o pensamento acontecem no presente do rapaz que caminha cabisbaixo. Tudo que lhe é dado é dado agora. Seria então possível que seu futuro fosse determinado ou sequer conhecido?

Para que um futuro seja conhecido existem duas condições. A primeira é a observação da repetição de um evento. A segunda é a capacidade de produzí-lo. Se alguém for poderoso o suficiente para garantir que um evento se produzirá no futuro, poderá ser um cientista. Se essa pessoa pode produzir todos os eventos que de fato ocorrem no universo, essa pessoa é necessariamente Deus. Isso deixa pouco espaço para o indeterminado. O espaço de ação que teríamos seria muito pequeno, se houvesse algum. Seríamos ontologicamente iguais ao rapaz cabisbaixo imaginado. No entanto, cremos que não é assim. Somos livres para realizar ao menos uma grande escolha dentro dessa ordem de coisas. Nossos atos de volição não são determinados por nada além de nossa própria capacidade de imaginar, de modo que a natureza não pode refrear o gênio humano com sua necessidade absoluta. Desafiamos o meramente orgânico a todo o tempo, e isso constitui a prova mesma da liberdade da qual fomos dotados para que fôssemos muito mais interessantes do que meros rapazes imaginados para investigações hipotéticas numa tarde de sexta-feira. Podemos acreditar nesse Deus ou não. Podemos acreditar Nele e ainda permanecer insubmissos, levados pela idéia de falsa liberdade que e aquela de agir conforme nossa própria vontade, ou poderíamos aceitar um conhecimento de ordem superior ao nosso, tomando parte da mente de Deus por meio da realização da vontade Dele. Embora Ele seja condição de nossa existência, quer o neguemos ou não, não somos condição da existência Dele. É por isso que nosso conhecimento de Deus não ocorre da forma tradicional, relação sujeito-objeto. Para explicar nosso conhecimento de Deus é necessário que concebamos uma relação diferente de conhecimento, porque Deus não se poderia jamais colocar como objeto de investigação das criaturas Suas. Podemos interpelar a vontade de Deus, conforme revelada, mas não podemos interpelar sua pessoa, como fazemos a um objeto de estudo.

O fato de nos perguntarmos sobre nossa existência mostra como fomos trazidos a ela por uma pessoa muito superior a nós. Jamais poderíamos conceder a liberdade de fazer tais indagações a algu que criássemos, somente poderíamos colocar em sua boca nossas próprias dúvidas a esse respeito.

domingo, abril 09, 2006

Frase divertida.

Achei essa frase genial citada por Roberto Campos. Parece bastante apropriada para o cenário brasileiro. Aproveitanto o ensejo, faço votos para que todos votemos nulo nessa eleição, porque se não estamos arrependidos pelo congresso que elegemos (e aquela quadrilha que se apossou do executivo em nome dos trabalhadores), perdemos o direito de esperar que nosso voto ofereça qualquer coisa melhor do que uma desculpa para faltar ao trabalho... Lá vai ela:

"É verdade que há vários idiotas no Congresso. Mas os idiotas constituem boa parte da população e merecem estar bem representados".

Hubert Humphrey, vice-presidente dos Estados Unidos na administração Lindon Johnson.

In: http://www.clicrbs.com.br/clicrbs/especiais/diversos/roberto_campos.htm
no texto Leis da Política

Lembrei do PT porque na campanha do Excelentíssimo Degustador de "Aguardente de Cana-de-Açúcar produzida no Brasil" (nossos negociadores têm tentado desesperadamente fazer esse nome substituir o escrito "Rum" nos rótulos de cachaça dos EUA) que nos olha do alto do planalto como um pai amoroso, falava-se muito que a esperança venceu o medo. Qualquer bom leitor de Thomas Hobbes veria nessa campanha que emprestou seu slogan da teoria política do filósofo inglês uma espécie de propensão a, chegando-se ao poder, acabar com as facções e instituir o grande Leviatã petista. Todavia, o caldo entornou. Eles agora contarão com os idiotas da população a quem tem representado como seria de se esperar para mais uma vez levá-los à seca e ensolarada Brasília. Acho que vamos precisar engolir muita cachaça para digerir outros quatro longos anos de Lula.

segunda-feira, abril 03, 2006

No Reply

Essa música é uma das minhas favoritas. Está aqui porque é apropriado que esteja. No mais, como disse o filósofo, "Sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar".

No Reply - Yoko Kanno

"Like the perfect ending,
It won't be long,
Till everything I've ruined has seen me gone,
In time, I pray you'll forgive,
Now you know the man I am,
Can you forgive me?

I fall,
Like the sands of time,
Like some broken rhyme,
At feet no longer there.

If only I could call the rain to melt and wash away the pain you feel
I would
You gave yourself to me and showed me what the truth could be
For that, I say thank you
This was my life
It never made much sense to me...

With every lie that I lived,
Part of me would fade,
Into this empty shadow I've become,
And now I feel so numb,
I no longer know myself,
But I still know you.

I call,
And there is no reply,
Like some phantom cry,
On ears too far away,

I close my eyes and watch as my life passes by,
The only thing I see is you,
For all the times you walked the line for me and standing by my side,
I say thank you,
Here lies my life,
It never felt that real to me.

You'll always mean so much to me,
And there's no reply,
And there's no reply,
You'll never know how much you meant to me,
And there's no reply,
And there's no reply,
You'll never know how much you meant to me.

If only I could call the rain to melt and wash away the pain you feel.
I would.
You gave yourself to me and showed me what the truth could be.
For that, I say thank you.
This was my life.
It never made much sense to me...

I close my eyes and watch as my life passes by,
The only thing I see is you,
For all the times you walked the line for me and standing by my side,
I say thank you,
You in my life,
It all meant so much more to be."

Certas coisas não tem remédio. Mesmo assim, seria apropriado reconhecer com honestidade o que ficou. Fica o meu muito obrigado, de coração. Fica minha sincera desiderata, de felicidade, de amor, de que sorriso algum seja jamais manchado de uma mágoa qualquer. O travor da amargura na boca pode às vezes nos impedir de apreciar os sabores mais sutis e maravilhosos da vida. Não convém ficar demais assim. Comvém esperar (e receber) mais vida, mais amor, mais felicidade e quem sabe um pouco de paz.