terça-feira, agosto 19, 2008

Pensamentos Sobre o Tabagismo

Este texto foi escrito originalmente como um post num tópico sobre tabagismo numa comunidade do Orkut. Era mais curto e mal educado. Reformulei para colocar no blog, que afinal de contas é um blog de família. Desse modo, quem estiver reparando a falta das referências a sexo tântrico que constavam do original, bem como das expressões chulas, entenderá que no presente contexto estes elementos não fariam o menor sentido.

Diante da crescente mobilização popular anti-tabagista promovida em diversos lugares no mundo, normalmente orquestrada com apoio institucional de governos e campanhas milionárias, envolvendo desde processos judiciais, filmes e programas de TV até aquelas manifestações do dia a dia feitas por particulares reprovando os fumantes por, ora, fumarem, achei por bem dedicar algumas linhas ao assunto. Trato aqui da argumentos mas também de minha experiência pessoal, que acho pertinente a fim de mostrar diversos aspectos do problema e a fim, também, de sair abertamente “do armário” em relação ao meu próprio hábito.

Sendo batista de criação, e tendo por pai um professor de educação física, tudo que ouvi sobre o tabaco fazia-me crer que fumar um cigarro era pior do que abraçar o satanás. É que crente em geral não se preocupa tanto com coisas como mentir um pouquinho, falar mal de alguém pelas costas (com as mais santas intenções), trapacear no imposto de renda, ou outras coisinhas assim, mas se você passar a mão na mulher do vizinho, der um “tapa no beiço” de vez em quando ou fumar o cigarro, ah... As portas do inferno se abrem diante de você, pérfido pecador! Assim tive todos os incentivos para não fumar (e igualmente não beber e não sair com a mulher de ninguém) - desde a ira relativamente contida do professor Gilberto até a fúria do Soberano, o Senhor - conforme o que me diziam. Levei muitos anos para descobrir que depois de fumar eu não houvera me tornado uma pessoa malvada. Ainda possuía muito amor e Jesus no coração (falo sério) e mais, percebia agora muito melhor como se formava o mecanismo do preconceito (sentido na pele), pois ao investigar o assunto, não vi nada no ato de fumar que contrariasse o cristianismo, mas pelo contrário, vi no fumante uma pessoa até mais tolerante na convivência com os outros.

Curiosamente, aquele entendimento de origem puritana – fumar seria coisa do diabo, bad, very bad - que acabou sendo reforçado pelas pesquisas daqueles mesmos cientistas do Reich alemão que usavam judeus como ratos de laboratório (a Alemanha nazista foi a primeira nação a combater abertamente o tabagismo por razões de saúde - estranha coincidência com nosso cenário político atual) é hoje, muitos anos passados, abraçado por pessoas adeptas da religião do saudável, do light, do bem estar, da harmonia; gente cuja perspectiva de felicidade, por tanto, está menos no céu do que nesta Terra - mais um padrão mental perigosíssimo - e está disposta a condenar não só ao inferno, mas a um confinamento domiciliar, às vezes nem sequer isso, todo aquele que incorre em um hábito que polua seus sonhos de um mundo perfeito. Essas pessoas confundem o hábito com o monge, ou melhor, o hábito de fumar (que consideram nojento) com a pessoa do fumante, que passam a considerar nojenta. Ora, uma pessoa nojenta deveria ficar mesmo em casa, trancafiada, pois sua visão causaria um dano estético irreparável no ambiente ao redor do não fumante, o cheiro do cigarro acabaria com o aroma do perfume delicioso do não fumante, e por aí vai...

Esse tipo de anti-tabagismo não é falso moralismo, é moralismo nenhum. Mais uma formidável ocasião na qual o psicológico atropela o lógico: considera-se imoral aquilo que é meramente contrário ao próprio gosto. Aquilo que incomoda o nariz passa a ser visto como falta de caráter, por como seria boa a pessoa que impõe tamanha pena sobre meu narizinho, acostumado com o ar puro das caminhadas sob o sol da manhã, ou o cheiro inebriante de incenso durante uma seção de Yoga, algo maravilhoso, cósmico, e o mais importante: oriental! Afinal aqueles orientais é que sabiam das coisas. Esse negócio de tradição ocidental de liberdade individual está estragando a cor da aura de muita gente... Assim, o sujeito não é só um fumante, é um canalha, e como toda a mídia passa a fazer coro com a opinião desses tipos, e tantos outros tenham achado por bem fazer coro com a opinião da mídia – afinal ninguém tem tempo para pensar quando se pode comprar as idéias numa banca de jornal (onde antes se podia comprar também cigarros) e o circo está montado: agora é só entregar os fumantes aos leões.

Com relação à concepção generalizada de que o cigarro deve ser banido por causa do dano provocado por fumo passivo, duas coisas podem ser ditas a respeito. A primeira é que ao contrário da crença popular, fumantes costumam ser pessoas educadas, fumam nas áreas para fumantes de restaurantes, não soltam baforadas nas caras dos bebês, se estão visitando alguém, perguntam antes se podem fumar no quintal ou na varanda, e por aí vai. Se alguém, no entanto, falta com a educação, a resposta mais simples é reclamar com a pessoa, não é chamar a polícia e aplicar uma multa! Nenhum ser humano normal precisa ser convencido pela lei a cumprir regras de boa educação (e sim, os fumantes são, para fins de direito, seres humanos normais). A segunda está publicada neste interessante artigo: http://www.data-yard.net/science/articles/lies.pdf o qual mostra o tipo de informação viciada que está alimentando o simulacro de moralismo dos anti-tabagistas.

Nossa sociedade mudou. Antes era puritana porque condenava o adultério e o hábito de beber. Agora estamos achando normal cantar a mulher alheia e vinho faz bem à saúde, de modo que está permitido. Fumar, no entanto, o único hábito que não altera seu estado mental e não implica em qualquer imoralidade está ficando proibido. Ao mesmo tempo, outras drogas são liberadas e, para meu grande espanto, as cruzadas moralizantes ainda são feitas contra o cigarro! É uma atitude mais que contra producente, é cretinice mesmo. Um exemplo de vítima dessa atitude é o príncipe dos pregadores, o reformado Charles Haddon Spurgeon, que fez o seguinte pronunciamento numa das ocasiões em que confrontado acerca de seu hábito de fumar charutos:

"Well, dear friends, you know that some men can do to the glory of God what to other men would be sin. And notwithstanding what brother Pentecost has said, I intend to smoke a good cigar to the glory of God before I go to bed to-night.
"If anybody can show me in the Bible the command, 'Thou shalt not smoke,' I am ready to keep it; but I haven't found it yet. I find ten commandments, and it's as much as I can do to keep them; and I've no desire to make them into eleven or twelve.
"The fact is, I have been speaking to you about real sins, not about listening to mere quibbles and scruples. At the same time, I know that what a man believes to be sin becomes a sin to him, and he must give it up. 'Whatsoever is not of faith is sin' [Rom. 14:23], and that is the real point of what my brother Pentecost has been saying.
"Why, a man may think it a sin to have his boots blacked. Well, then, let him give it up, and have them whitewashed. I wish to say that I'm not ashamed of anything whatever that I do, and I don't feel that smoking makes me ashamed, and therefore I mean to smoke to the glory of God."

In: Christian World, on September 25, 1874

Mudando um pouco a atenção do argumento para o problema teológico, que muito me preocupa ultimamente, devo lembrar que os argumentos do tipo “templo do espírito”, recomendando cuidado com o corpo ,baseiam-se normalmente no texto de I Corínthios 6:19-20. Se alguém é imbecil o suficiente para retirar esse texto do contexto e aplica-lo ao tabagismo, eu até posso perdoar ( se bem que já fui chamado de burro por que sou fumante, porém ao menos ainda sei ler...), mas creio que exista uma certa má-fé por parte daqueles que, mesmo com as melhores intenções, ignoram que a passagem começa no verso 12, e trata sobre imoralidade sexual, não sobre cigarros.

Os fumantes, espremidos entre evangélicos e seculares preocupados com os “pecados” alheios, estão suportando um mau bocado. Como já disse, fui chamado de burro por gente, francamente, muito mais burra do que eu. Já vi gente fazer cara feia para o meu cigarro mesmo estando a uma distância enorme. Assim sendo, mesmo um fumante cuidadoso acaba tendo contato direto com diversas amostras da estupidez humana, não em si mesmo, mas nos outros. Estou cada vez mais convencido de que falta amor no mundo...

segunda-feira, agosto 18, 2008

Louvorzão

Já existe um debate um bocado acalorado em andamento a respeito da maneira e conteúdo do louvor nas igrejas evangélicas. Diante da crescente massa de palpites dados a respeito, e do interesse que tenho pelo tema (enquanto freqüentador ocasional de cultos), achei por bem dar meus próprios pitacos a fim de tomar posição em relação ao problema que já causou não poucas dissensões nas igrejas.


A despeito do meu horror a dicotomias simplistas temos, grosso modo, dois pólos disputando o destino do “momento de louvor”. O primeiro deles busca uma liturgia tradicional, com os hinos consagrados nos cantores e hinários, normalmente o grupo é composto de irmãos mais velhos (sou um escritor antiquado, não acho que velho seja ofensa e jamais aderirei ao neologismo politicamente correto “melhor idade”), pastores comprometidos com a ortodoxia teológica e membros que, a meu exemplo, são jovens com alguma preocupação intelectual no que se refere ao conteúdo da mensagem proferida durante a liturgia em todas as suas formas. O segundo grupo costuma ser mais jovem, envolvido com as bandas que tocam na igreja, consumidores de música gospel e preocupados com uma efetiva transmissão de emoção no culto, bem como com o impacto da mensagem a ser proclamada.


Primeiro um pouco de história. Entre os protestantes, os luteranos foram os primeiros a utilizar hinos que incorporavam o cancioneiro popular alemão da época de modo a produzir, em 1524 o Pequeno Livro de Canções Espirituais. Lutero mesmo foi responsável por algumas dessas composições, além de ter iniciado a tradição dos chorales cujo ápice da perfeição foi atingido por Johan Sebastian Bach. Bach, no entanto, não era bem visto pelos pietistas, que favoreciam uma música mais simples, era sim querido dos luteranos, entre os quais podia exercitar sua arte como mais gostava. Já anglicanos e reformados não compartilhavam o entusiasmo luterano por hinos de composição livre, acreditavam adequados somente os hinos contidos na Bíblia, os Salmos em particular. A idéia era de que seria imodesto pretender compor algo mais perfeito do que a Palavra já dispusera nas canções que contém. Ah, e sem instrumentos. Mais adiante na história, Calvino, entre outros, introduziu a paráfrase de Salmos para que a congregação cantasse. A idéia era que a congregação conseguisse também memorizar os hinos e assim ter algum proveito em sua educação teológica. Tal era o intento de John e Charles Wesley, cujas composições e adaptações ajudavam na compreensão da teologia envolvida nos temas cantados. Dessa maneira a Inglaterra abraçou os hinários. Nos Estados Unidos, embora os hinos tenham levado mais tempo para se desenvolverem, especialmente dada a ênfase puritana na simplicidade em tudo, foi estabelecida após a Guerra Civil uma tradição de spirituals e, durante o avivamento durante o século XIX, surge a música gospel, combustível dos revivals que varreram o país convertendo milhares. A notoriedade dessa música estava no impacto que ela trazia enquanto meio de evangelização (breve nota: foi o estilo musical que formou e marcou a carreira do rei do Rock and Roll).


Os mais recentes desenvolvimentos da música na adoração, com o advento do movimento carismático em especial, são o xis da questão. São a corrente abra;cada pelo segundo grupo mencinado na disputa pelo louvor. A música produzida nesse período e por esta corrente procura acima de tudo estimular a emoção e a imaginação do ouvinte, caracterizada por alguns como apelo ao lado feminino das pessoas, por outros como porta de entrada para alguma medida de êxtase místico espiritual. (Não disputo a validade de uma busca por tal sentimento, mas a maneira pela qual isso se dá é algo que tem um profundo impacto sobre a vida de uma congregação diante de Deus.) Quando se chega a esse ponto, já se pode imaginar, a razão saiu pela janela. Estaria o primado do pregador na cultura evangélica ameaçado? Por quê?


Fico matutando, em meio à disputa sobre o louvor na igreja, que se o principal objetivo é o cumprimento da grande comissão, e presumindo que estão em atrito dois grupos de cristãos sinceros, então só restariam duas questões a se resolver: a forma da mensagem e o conteúdo da mesma.


A forma da mensagem, no caso da pregação, favorece a persuasão racional. Trata-se da maneira mais fácil de provar por A mais B que Jesus ama o pecador, morreu por ele e que Deus irá chamar seus escolhidos para viver eternamente no céu. Falando desse jeito fica chato, embora preciso. Existe uma infinidade de nuances teológicas a ser explorada e a firmeza da fé de uma congregação, sua compreensão da consistência da fé professada – algo freqüentemente ignorado por uma geração que não viveu os dias em que se levava a fé a sério e em que os embates contra certos elementos nocivos dentro da igreja eram ferrenhos – depende em grande parte do que é exposto na pregação. Justamente por conta da forma expositiva, a mensagem pode ser analisada e inclusive criticada quando é o caso. Nossas defesas psicológicas estão normalmente em alerta quando lidamos com o discurso que declaradamente defende certas idéias.


A forma da música de louvor contemporânea, além da facilitar a memorização da mensagem, como já bem sabia o velho Lutero, pode ser usada para potencializar o efeito da mensagem. Isso ocorre por meio do apelo psicológico natural que o discurso em forma poética – embora isso seja muitas vezes feito com a poesia mais canhestra ultimamente – possui. É um bom meio de convencer. Acrescente-se a isso que no momento do louvor a congregação canta junta, o conforto e a afirmação encontradas nessa atividade (como bem explica a psicologia de massas) derrubam as defesas psicológicas que o indivíduo possui. O discurso em primeira pessoa, carregado de símbolos sentimentais (que renderam milhões a diversos cantores, bandas e duplas sertanejas) aplicado ao louvor, vira instrumento poderoso de evangelização, mas também pode servir como poderoso alienador das mentes dos que cantam sem refletir.


Eis o ponto ao qual gostaríamos de chegar. A reflexão, o culto racional a Deus, é o que permite ao cristão conservar a fé intacta, sem se corromper. É um dos pilares da Reforma a reflexão séria a respeito da pessoa, do caráter, das obras e do plano de Deus. Como a breve exposição histórica mostra, grandes teólogos dedicaram sua atenção à construção de um hinário consistente com suas visões teológicas. Os efeitos do conteúdo sadio na forma musical foram vistos pelo mundo todo. Hoje, ao invés de servir como apoio à pregação, a música está em muitos lugares se substituindo a ela. Conforme já expusemos acima, o trabalho expositivo pode ser relevado com alguma facilidade, os efeitos do louvor são mais sutis, porém mais duradouros. É como o velho teste. Ninguém lembra na sexta-feira como foi o sermão de domingo, mas muitos sabem quais as músicas que foram apresentadas. Mais ainda, são capazes de repeti-las.


Agora, como se não bastasse isso tudo, um elemento explosivo foi jogado nesse coquetel evangélico. Um elemento externo ao contexto específico da igreja e que afeta a todos os cidadãos igualmente: a imbecilização geral da população. As novas gerações – a minha é uma grande vítima disso – estão recebendo uma educação que mais parece uma piada de mau gosto. Muita gente dentro das igrejas não gosta dos hinos antigos (aqueles que possuem relevância teológica) porque é burra demais para entender o que dizem. Preferem cânticos mais atuais e mais fáceis, limitados na linguagem e no escopo, um movimento indesejável de afastamento do divino e aproximação com o humano. Não quero dizer que dedico menos amor a pessoas burras, mas é que existe tal coisa como a ignorância nociva. Não são poucos os que possuem uma tendência a considerar tudo o que não entendem como algo alheio ao seu interesse, o que não passa de uma grande cretinice. A poesia fácil de entender elogia o horizonte intelectual do ouvinte e o acomoda em si, ao invés de lança-lo em busca de um conhecimento mais completo do Deus. O emotivismo exacerbado e o apelo à experiência pessoal fazem com que o louvor que deveria dirigir-se a Deus trate principalmente da experiência humana. Não é de se surpreender que este tipo de música acabe se afastando, em umas tantas ocasiões, da sã doutrina. Os esforços de um pregador em estabelecer uma fundação teológica sólida para a congregação é solapada pelo trabalho do grupo de louvor, a despeito de suas melhores intenções. As letras compostas com o ouvinte em mente, mais do que a Palavra, acabam fazendo, por vezes mais mal do que bem, gerando uma série de problemas dentro da igreja e contribuindo para a crescente confusão de um público que por si só já não é e não se quer esclarecido.


Ainda resta um aspecto a ser esclarecido: e se o objetivo principal do louvor não for o cumprimento da grande comissão? A música na igreja possui também um outro papel não menos importante, qual seja a exaltação da glória de Deus. Nesse caso o argumento se complica. O caso é que a experiência musical é uma experiência bastante distinta da experiência humana do mundo. O caráter de contemplação pura da beleza de uma composição musical possui inúmeras semelhanças com a contemplação da glória de Deus. Em ambos os casos, nossa experiência destas realidades acaba em si mesma. Assim como a apreciação da música não serve em geral um propósito além de si, a contemplação da glória divina acaba onde começa, em Deus. Não é difícil imaginar a razão pela qual a música nos tenha sido dada, quando consideramos seu caráter quase extra-mundano (é claro que tenho agora em mente muito mais a música de alto nível). Nessa perspectiva de que a música é algo mais sublime do que normalmente cremos que ela seja, o papel do louvor afasta-se ainda mais da perspectiva meramente humana de causar emoções ou de ser facilmente assimilada pelo público. A música passa a cumprir um papel de adoração pura e simples, e uma música feita com o propósito de atender ao mínimo denominador comum humano (e assim ser assimilada e repetida pelo maior número possível de pessoas) é justamente a mais indigna de ser apresentada diante de Deus.


A verdadeira poesia, da mesma forma, presta-se a dizer - de maneira compacta e elegante, abrindo-se para uma pletora de significados - aquilo que a linguagem humana é incapaz de expressar corretamente, mas que é parte da nossa experiência. Não é à toa que a própria Bíblia é repleta de poesia. Dessa forma, nossas línguas e mentes imperfeitas podem transmitir um pouco da experiência da perfeição divina. Querer que a função da poesia seja meramente uma clareza didática e patética é aleijar o culto religioso de uma das formas mais apropriadas para louvar a Deus e contar quem Ele é. Que muita gente seja incapaz de apreciar, sequer no nível mais simples, a diferença entre a grande arte sacra e as coisas que se tem criado nas igrejas ultimamente é nada menos que um sinal dos tempos.


Sou levado, por estas razões, a concluir que a barreira entre o secular e o sagrado deve ser mantida em alguma medida, a despeito do desejo mais ardente de converter milhões ou de entreter uma congregação, ou corremos o risco de abraçar o mundo perdendo a Deus no processo.

quarta-feira, agosto 06, 2008

De volta à carga

Não escrevi aqui ao longo de um bom tempo. Isso acontece e quando em quando. Seria fácil demais empinar o narizinho e dizer que "O que não se pode falar, deve-se calar". A verdade é bem distante das sofisticadas tentativas de enfiar o mundo dentro de uma forma lógica - embora deva reconhecer que o conteúdo da citação é tão verdadeiro quanto evidente. O caso é que estive físicamente cansado demais para dedicar qualquer tempo a uma atividade que foi, durante um longo período, a forma mais rica de contato com o mundo que tive.

Parte do problema se deve ao fato de que estive lutando com alguns volumes de filosofia que restam mal digeridos na cabeça, o que por algum tempo me pareceu mais interessante do que o prazer de dizer qualquer coisa, por mais importante que fosse. Não tenho, no entanto, coragem e nem vontade de abandonar esta página às moscas. Fui acordado do meu sono mental pelo anúncio do post abaixo, o lançamento da nova página do Olavo de Carvalho. Quem conhece a obra do filósofo e lê a minha modesta página sabe que ele em muito me inspira e - embora jamais o tenha conhecido - gostaria muito de pensar que sou de algum modo seu aluno.

O segundo elemento que me pôs novamente a escrever foi o efeito levemente anestésico do estudo, ainda que em seu princípio, de Ludwig Wittgenstein. A maneira pela qual ele dissolvia problemas filosóficos por meio de sua terapia, por estranho que pareça, aliviou um pouco o peso do torvelinho de leituras e acontecimentos políticos e sociais que estavam a pôr-me louco. A serenidade com a qual Wittgenstein coloca todo em volta de lado e vai tratar da forma de vida da linguagem ajudou em muito a necessária tarefa de assumir uma perspectiva diferente diante dos fatos, recompor as energias retornar revigorado ao ciberespaço. Quando tiver que cuidar das outras tantas formas de vida nas quais estou metido, aí a porca vai fumar, mas deixemos as agonias de lado. Se não escrever por prazer ou por necessidade, por que seria?

Como de boas intenções o inferno está cheio, já fomos logo reformulando o blog - modestamente, como manda o bom conservadorismo - incluindo alguns links e excluindo outros, e tentaremos em breve ousar ainda mais.

Estou preparando uma provocaçãozinha sobre o culto em diversas igrejas agora que estou a uma distância segura para fazê-lo. Logo sai. Assim como outras coisas interessantes que nos ocorrerem no caminho.

Pedidas as desculpas, estamos de volta.

Seminário de Filosofia

http://www.seminariodefilosofia.org/

É o novo site de Olavo de Carvalho. Um esforço de publicar a montanha de material que o filósofo produziu ao longo de duas décadas de atividade pedagógica. Já assinei e recomendo.