sexta-feira, setembro 19, 2008

Loronix

Sei que esse blogue já está para lá de famoso, mas achei que era o caso de divulgar para aqueles que como eu não sabiam, até ontem, de sua existência. Trata-se do Loronix. Essa página é um dos mais bem feitos, funcionais e interessantes sites sobre música brasileira que já tive o prazer de encontrar.

Cheguei ali por acidente procurando álbuns dos irmãos Abreu (outro item musical que dispensa qualquer apresentação) e fiquei encantado com o trabalho de arqueologia da música empreendido ali. Os LPs disponibilizados podem ser descarregados em mp3 ou FLAC, o que é uma coisa maravilhosa para os puristas em busca do som não comprimido. Loronix faz o que todas as gravadoras deveriam estar fazendo a muito tempo mas nunca tiveram vergonha na cara de levar a cabo (preferem chorar os lucros perdidos com a internet quando poderiam estar oferecendo obras relevantes em CD para o público epecializado que adoraria pagar para pôr as mãos em tais preciosidades).

Ficam meus parabéns, e o endereço:

http://loronix.blogspot.com/

sexta-feira, setembro 05, 2008

Eleições 2008

Apesar de ter lido um bocado no New York Times, na Newsweek, na Time e em alguns sites da internet sobre como Obama era maravilhoso, eu não tinha ficado muito interessado nas eleições americanas, até essa semana. Quem deu o primeiro alarma de que a coisa ficaria interessante foi Olavo de Carvalho. Ele disse que a melhor coisa que McCain poderia fazer para mudar a maré da corrida presidencial seria indicar Sarah Palin como sua vice. Dito e feito. Por conta dessa mudança extraordinária que ninguém (fora o referido filósofo) teria previsto, acabei me interessando pela coisa toda.


O impacto da energia que a mulher levou para o ticket republicano foi espetacular. Tanto mais por motivo da maneira como se deu. Palin não foi falar diante de seu partido com o status de Verbo encarnado que toda a mídia norte-americana (com as honrosas exceções de sempre, aquelas em geral desconhecidas no Brasil) tentou conferir a Obama. Palin apareceu como uma mulher absolutamente simples, cujas preocupações são as mesmas dos americanos comuns, cuja história é a de uma pessoa comum que, diante das circunstâncias que se apresentaram em sua vida, teve coragem de alçar-se ao primeiro plano da política em seu estado. Foi assim que sua mensagem tornou-se tanto mais pungente, impressionou por não tentar impressionar.


Assisti a convenção do Grand Old Party e fiquei bastante satisfeito com o que vi. Não se tratou de um espeáculo de fogos de artifício, nem de uma retórica lustrosa que não passasse de mera flatus vocis. A convenção se preocupou em apresentar tão somente a história e o caráter de seus candidatos, o que fez muito bem, e trouxe um entusiasmo para as fileiras republicanas que não se via ao longo de quase todo o tempo de campanha até agora. A figura de Palin falou fundo ao coração dos conservadores (não só às mulheres mais aos homens também, como bem apontou Chris Mathews ontem na C-SPAN e Ann Coulter hoje na Fox News), McCain fez um discurso simples e direto, de modo a marcar uma grande diferença entre si e Obama, a idéia de straight talk, opondo o estilo franco e direto ao sinuoso e floreado discurso usado pelo democrata para convencer os americanos a comprar castelos no ar.


Curiosamente, fica a impressão de que a promessa de mudança na política americana é mais realizável por meio dos republicanos do que pelos democratas. O discurso de Obama fala sobre mudança, mas fala sobre mudança como algo abstrato, como se a mudança fosse um ideal a ser perseguido, como se ele trouxesse mudança e isso fosse uma coisa boa. Até aí vá lá, mas o problema do discurso vago sobre mudança é o mesmo do discurso petista da primeira campanha bem sucedida de Lula, simplesmente deixar que as pessoas colocassem na grande categoria de coisas a serem mudadas tudo aquilo que as incomoda, sem que isso implique da parte do candidato a mudar o que quer que seja em específico. Trata-se de um embuste completo. No mais, o programa de Obama não traz nenhuma mudança em relação àquilo que seu partido vem propondo há anos e anos.


Já a chapa McCain/Palin mostra duas pessoas que ao longo de suas carreiras agiram por conta de seus princípios sem o menor problema em passar por cima de membros do próprio partido e sem muita preocupação pessoal com sua própria imagem. A figura de Mavericks, usada para descrevê-los, reflete esta postura. Eles são os candidatos mais independentes da corrida, e por tanto mais capazes de trazer à luz a tão esperada mudança.


Entre a velha empulhação democrata e essa estranha combinação de republicanos de um modo ou de outro à margem da chamada elite de Washington, creio que seria muito mais interessante ver os segundos chegarem ao poder. Certamente mais interessante do que ver no salão oval mais um homem da elite intelectual americana, esquerdista, rico, cuja única distinção de todos os outros democratas (presidentes ou candidatos) em um passado recente é a circunstância de ser mulato (porque até onde seu, filho de pai negro e mãe branca é mulato, não negro), e isso em si não vai fazer a mais remota diferença em sua política (afinal de contas, a vasta maioria dos brancos esquerdistas americanos já defende ação afirmativa, única política na qual poder-se-ia esperar que um presidente negro implementasse com mais afinco que um branco). A esse propósito vale lembrar que tão imbecil quanto não votar em alguém pelo fato de ser negro é votar em alguém principalmente por essa razão. Aliás, essa é a definição mesma de racismo.


Continuamos a acompanhar com interesse o curso dos eventos. Sem mais para o momento, resta torcer por uma vitória republicana, mas sobre isso é muito cedo para falar.