sábado, dezembro 13, 2008

Dies Irae

“Contudo, quando o filho do homem vier, encontrará fé na Terra?” Luc. 18:8

Embora os cristãos tenham como moeda fácil no seu linguajar a expressão “confiança”, fico me perguntando quantos realmente a sentem. Nossa epígrafe para estas linhas foi escolhida com esta pergunta em mente. As palavras de Jesus diante dos Fariseus que preocupavam-se em descobrir o dia da vinda do Reino de Deus. A passagem dos capítulos 17 e 18 do evangelho de Lucas mostram como, para Jesus, a confiança humana é mal colocada. Ele mostra por uma série de parábolas confiadas aos discípulos o quão vã é tal especulação. Jesus apequena todas as iniciativas humanas de regeneração da raça na passagem, diante da vinda do Reino; Jesus cita os atos de comer, beber, casar, dar-se em casamento, comprar, vender, plantar e construir. O Julgamento será tão terrível que, interrogado sobre o local em que acontecerá o evento, Jesus anuncia que será onde estiverem os cadáveres, naquele local se ajuntarão os abutres.

A confiança humana é destroçada por Jesus diante da perspectiva da morte e do julgamento divino. O verso 17:37 não deixa dúvidas de que haverá carnificina e horror. Ao tratar do período de domínio do Imperador Romano (me refiro ao Sacro Império Romano-Germânico), Eugen Rosenstock-Huessy, no livro Out of Revolution, pinta um quadro belíssimo da idéia do Julgamento como um fator decisivo na formação do caráter do cristianismo por volta do ano 1000. A imagem coaduna perfeitamente com a parábola de Jesus nos versos 9 a 14 do capítulo 18, sobre o fariseu e o publicano. O lamento do publicano, “Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador”, é um retrato da situação da cristandade européia na época tratada por Rosenstock-Huessy. A descrição sombria do Dia do Senhor é um convite imediato ao arrependimento e conversão. Não se trata aqui de uma ameaça do inferno, tão jocosamente tida pelos liberais como a grande força por trás da religião. Trata-se da consciência profunda da miséria de todos os homens diante do Juiz supremo, e mais interessante, a consciência da necessidade de que todos os homens passem igualmente pelo escrutínio de sua alma, sem que nada fique oculto. Rosenstock-Huessy sugere que esta visão é fruto da primeira revolução de caráter democrático na Europa cristã. A fundamental igualdade de todos diante do Juiz. Essa camada profunda do cristianismo é tão sólida a ponto de, segundo ele, resiste o poderoso ataque de Lutero à Igreja Romana, seus príncipes e suas hierarquias.

Fico impressionado com a força da idéia do homem diante do trono de Deus. A desproporção entre um e outro infinita, podemos apenas aproximá-la imaginativamente. O ato humano de maior humildade é ao mesmo tempo o de maior coragem: pedir a Deus por sua fé, por sua alma, arrepender-se diante Dele e esperar Dele o perdão. Esta é a essência da inovação espiritual iniciada com Abraão, colocar o homem diante de Deus. Creio que disso deriva a força do "dia de todas as almas", bem como da revolução de Lutero. Penso que a maioria das pessoas, se refletir longamente a respeito deste assunto, terá seu ego destroçado pelo á horror do julgamento vindouro. Permanecemos comendo, bebendo, comprando, vendendo, casando-nos e dando-nos em casamento, porque ignoramos as realidades mais relevantes para nós, a saber, quem somos e o que podemos esperar do futuro.

Aí está a beleza da descrição de Rosenstock-Huessy do dia de “Todas as Almas”. A beleza encontrada em meio ao horror. O julgamento terrível é condensado de forma ainda mais impressionante no poema Dies irae, e a inspiração do poema é aperfeiçoada no final, quando o autor contrapõe ao julgamento implacável o pedido:

iuste iudex ultionis,
Donum fac remissionis
Ante diem rationis.


Justo juiz de vingança,
Dá-nos o presente do perdão
Antes do dia de prestação de contas

Isso é o melhor que podemos fazer diante do juiz. Porém aquele que o fizer, será justificado diante de Deus. Me pergunto quantas pessoas são capazes de encarar sinceramente dentro de si o horror do Dies irae a fim de encontrar então o perdão e a salvação pela fé em Cristo Jesus. A via é assustadora demais. Quem haveria no mundo com tamanha fé a ponto de se apresentar diante de Deus no dia do juízo confiantes na justificação conferida por Deus por meio de Cristo? Ou seja: “quando o filho do homem vier, encontrará fé na Terra?” Aí está um sentido que até pouco jamais suspeitei ter a expressão “temer a Deus”.

Este é o verdadeiro teste da confiança humana. Aí podemos ver o quanto nossa confiança é pouca, o quanto é mal colocada. Nossa fé na regularidade de certas instituições e eventos da vida é nada menos que ridícula. Curiosamente, a única maneira de resistir ao Juízo é confiar na Graça do próprio Juiz. Ele é o único que pode subsistir sua própria ira contra o homem que ousou ofender a Sua glória. Aí vemos o amor de Deus, que nos preserva da ira mais poderosa a fim de insistir na nossa existência a despeito de sua própria justiça.

Tuca

Estraho confessar, mas sempre tive um interesse insistente por essas cantoras que morreram jovens demais. Estava procurando na internet informações sobre a Tuca, uma brilhante cantora, arranjadora e compositora brasileira que fez suas andanças pela França e de volta ao Brasil em 75, e que veio a falecer três anos depois, deixando uma obra tanto pequena quanto interessante. Lembrei que também sempre fiquei fascinado com a história da Karen Carpenter. Além da morte relacionada ao mesmo problema, ambas cantam com voz suave, um tanto grave, bastante tranqüila.

As semelhanças, no entanto, param aí. Ao contrário da mais que famosa Karen Carpenter, Tuca é um dos mais bem guardados segredos da música popular brasileira; informações sobre sua vida são difíceis de encontrar, e seus albums só recentemente foram disponibilizados pelos bons ofícios do Zecalouro, responsável pelo site Loronix. Muita gente no Brasil e no estrangeiro passou algum tempo sem saber o que acontecera com ela. Os franceses sempre poderão se lembrar do álbum “La Question”, de Françoise Hardy, os brasileiros, além de poderem ouvir os álbuns de Tuca – cujo nome de batismo é Valenzia Zagni da Silva – podem ouvir o excelente “Dez anos Depois” de Nara Leão, que contou com grande participação de nossa heroína.

Tuca é da geração que apareceu no âmbito dos festivais universitários de música e aqueles grandes festivais da TV brasileira. Para os mais jovens (também não vivi nada daquilo, mas ao menos sei do que se trata), explico que era assim que alguém ficava conhecido nos idos de 1960, quando não existia MTV. É um período da música que acho bem interessante, cresci ouvindo esse tipo de coisa em casa, por culpa de mamãe (a culpa é sempre da mãe), mas não imaginei que houvesse saído dali uma artista tão criativa quanto Tuca. Achei sei trabalho acima da média, acrescente-se a isso o fato de ser algo pouco conhecido e minha atenção foi completamente cativada. Drácula “I Love You” foi muito ousado, diferente e é altamente recomendado por este humilde escrivinhador. Ali você encontra um misto de tristeza e estranhamento que, nas primeiras audições, me deixou meio sem chão. “Meu eu” é uma viagem curiosa pelo Brasil, pois te leva, às vezes na mesma faixa, por entre universos musicais díspares que se encontram espalhados pelo país, sem esquecer a influência clássica que faz participação especial em trechos do álbum, quase como uma brincadeira – ou assim pareceria se o primeiro álbum de Tuca não fosse, no geral, tão sério. Ah, não deixem de ouvir "La Question", vale muito a pena, embora meu francês macarrônico não me permita entrar em detalhes acerca das músicas. Vale especialmente por ser o melhor disco de Hardy e pelo violão de Tuca.

Hoje Tuca teria 64 anos. Não saberemos jamais o que ela teria feito. Esse é mais intrigante dos músicos que morrem jovens, a gente sempre fica pensando no que ficou por vir. Pensar nisso me deixa um tantinho melancólico.

P.S. A versão “oficial” da “vida e obra” de Tuca deixa a desejar, mas é a melhor fonte de informação que encontrei até agora: http://br.geocities.com/cantoras_brasil/cantoras/tuca.htm

sexta-feira, setembro 19, 2008

Loronix

Sei que esse blogue já está para lá de famoso, mas achei que era o caso de divulgar para aqueles que como eu não sabiam, até ontem, de sua existência. Trata-se do Loronix. Essa página é um dos mais bem feitos, funcionais e interessantes sites sobre música brasileira que já tive o prazer de encontrar.

Cheguei ali por acidente procurando álbuns dos irmãos Abreu (outro item musical que dispensa qualquer apresentação) e fiquei encantado com o trabalho de arqueologia da música empreendido ali. Os LPs disponibilizados podem ser descarregados em mp3 ou FLAC, o que é uma coisa maravilhosa para os puristas em busca do som não comprimido. Loronix faz o que todas as gravadoras deveriam estar fazendo a muito tempo mas nunca tiveram vergonha na cara de levar a cabo (preferem chorar os lucros perdidos com a internet quando poderiam estar oferecendo obras relevantes em CD para o público epecializado que adoraria pagar para pôr as mãos em tais preciosidades).

Ficam meus parabéns, e o endereço:

http://loronix.blogspot.com/

sexta-feira, setembro 05, 2008

Eleições 2008

Apesar de ter lido um bocado no New York Times, na Newsweek, na Time e em alguns sites da internet sobre como Obama era maravilhoso, eu não tinha ficado muito interessado nas eleições americanas, até essa semana. Quem deu o primeiro alarma de que a coisa ficaria interessante foi Olavo de Carvalho. Ele disse que a melhor coisa que McCain poderia fazer para mudar a maré da corrida presidencial seria indicar Sarah Palin como sua vice. Dito e feito. Por conta dessa mudança extraordinária que ninguém (fora o referido filósofo) teria previsto, acabei me interessando pela coisa toda.


O impacto da energia que a mulher levou para o ticket republicano foi espetacular. Tanto mais por motivo da maneira como se deu. Palin não foi falar diante de seu partido com o status de Verbo encarnado que toda a mídia norte-americana (com as honrosas exceções de sempre, aquelas em geral desconhecidas no Brasil) tentou conferir a Obama. Palin apareceu como uma mulher absolutamente simples, cujas preocupações são as mesmas dos americanos comuns, cuja história é a de uma pessoa comum que, diante das circunstâncias que se apresentaram em sua vida, teve coragem de alçar-se ao primeiro plano da política em seu estado. Foi assim que sua mensagem tornou-se tanto mais pungente, impressionou por não tentar impressionar.


Assisti a convenção do Grand Old Party e fiquei bastante satisfeito com o que vi. Não se tratou de um espeáculo de fogos de artifício, nem de uma retórica lustrosa que não passasse de mera flatus vocis. A convenção se preocupou em apresentar tão somente a história e o caráter de seus candidatos, o que fez muito bem, e trouxe um entusiasmo para as fileiras republicanas que não se via ao longo de quase todo o tempo de campanha até agora. A figura de Palin falou fundo ao coração dos conservadores (não só às mulheres mais aos homens também, como bem apontou Chris Mathews ontem na C-SPAN e Ann Coulter hoje na Fox News), McCain fez um discurso simples e direto, de modo a marcar uma grande diferença entre si e Obama, a idéia de straight talk, opondo o estilo franco e direto ao sinuoso e floreado discurso usado pelo democrata para convencer os americanos a comprar castelos no ar.


Curiosamente, fica a impressão de que a promessa de mudança na política americana é mais realizável por meio dos republicanos do que pelos democratas. O discurso de Obama fala sobre mudança, mas fala sobre mudança como algo abstrato, como se a mudança fosse um ideal a ser perseguido, como se ele trouxesse mudança e isso fosse uma coisa boa. Até aí vá lá, mas o problema do discurso vago sobre mudança é o mesmo do discurso petista da primeira campanha bem sucedida de Lula, simplesmente deixar que as pessoas colocassem na grande categoria de coisas a serem mudadas tudo aquilo que as incomoda, sem que isso implique da parte do candidato a mudar o que quer que seja em específico. Trata-se de um embuste completo. No mais, o programa de Obama não traz nenhuma mudança em relação àquilo que seu partido vem propondo há anos e anos.


Já a chapa McCain/Palin mostra duas pessoas que ao longo de suas carreiras agiram por conta de seus princípios sem o menor problema em passar por cima de membros do próprio partido e sem muita preocupação pessoal com sua própria imagem. A figura de Mavericks, usada para descrevê-los, reflete esta postura. Eles são os candidatos mais independentes da corrida, e por tanto mais capazes de trazer à luz a tão esperada mudança.


Entre a velha empulhação democrata e essa estranha combinação de republicanos de um modo ou de outro à margem da chamada elite de Washington, creio que seria muito mais interessante ver os segundos chegarem ao poder. Certamente mais interessante do que ver no salão oval mais um homem da elite intelectual americana, esquerdista, rico, cuja única distinção de todos os outros democratas (presidentes ou candidatos) em um passado recente é a circunstância de ser mulato (porque até onde seu, filho de pai negro e mãe branca é mulato, não negro), e isso em si não vai fazer a mais remota diferença em sua política (afinal de contas, a vasta maioria dos brancos esquerdistas americanos já defende ação afirmativa, única política na qual poder-se-ia esperar que um presidente negro implementasse com mais afinco que um branco). A esse propósito vale lembrar que tão imbecil quanto não votar em alguém pelo fato de ser negro é votar em alguém principalmente por essa razão. Aliás, essa é a definição mesma de racismo.


Continuamos a acompanhar com interesse o curso dos eventos. Sem mais para o momento, resta torcer por uma vitória republicana, mas sobre isso é muito cedo para falar.

terça-feira, agosto 19, 2008

Pensamentos Sobre o Tabagismo

Este texto foi escrito originalmente como um post num tópico sobre tabagismo numa comunidade do Orkut. Era mais curto e mal educado. Reformulei para colocar no blog, que afinal de contas é um blog de família. Desse modo, quem estiver reparando a falta das referências a sexo tântrico que constavam do original, bem como das expressões chulas, entenderá que no presente contexto estes elementos não fariam o menor sentido.

Diante da crescente mobilização popular anti-tabagista promovida em diversos lugares no mundo, normalmente orquestrada com apoio institucional de governos e campanhas milionárias, envolvendo desde processos judiciais, filmes e programas de TV até aquelas manifestações do dia a dia feitas por particulares reprovando os fumantes por, ora, fumarem, achei por bem dedicar algumas linhas ao assunto. Trato aqui da argumentos mas também de minha experiência pessoal, que acho pertinente a fim de mostrar diversos aspectos do problema e a fim, também, de sair abertamente “do armário” em relação ao meu próprio hábito.

Sendo batista de criação, e tendo por pai um professor de educação física, tudo que ouvi sobre o tabaco fazia-me crer que fumar um cigarro era pior do que abraçar o satanás. É que crente em geral não se preocupa tanto com coisas como mentir um pouquinho, falar mal de alguém pelas costas (com as mais santas intenções), trapacear no imposto de renda, ou outras coisinhas assim, mas se você passar a mão na mulher do vizinho, der um “tapa no beiço” de vez em quando ou fumar o cigarro, ah... As portas do inferno se abrem diante de você, pérfido pecador! Assim tive todos os incentivos para não fumar (e igualmente não beber e não sair com a mulher de ninguém) - desde a ira relativamente contida do professor Gilberto até a fúria do Soberano, o Senhor - conforme o que me diziam. Levei muitos anos para descobrir que depois de fumar eu não houvera me tornado uma pessoa malvada. Ainda possuía muito amor e Jesus no coração (falo sério) e mais, percebia agora muito melhor como se formava o mecanismo do preconceito (sentido na pele), pois ao investigar o assunto, não vi nada no ato de fumar que contrariasse o cristianismo, mas pelo contrário, vi no fumante uma pessoa até mais tolerante na convivência com os outros.

Curiosamente, aquele entendimento de origem puritana – fumar seria coisa do diabo, bad, very bad - que acabou sendo reforçado pelas pesquisas daqueles mesmos cientistas do Reich alemão que usavam judeus como ratos de laboratório (a Alemanha nazista foi a primeira nação a combater abertamente o tabagismo por razões de saúde - estranha coincidência com nosso cenário político atual) é hoje, muitos anos passados, abraçado por pessoas adeptas da religião do saudável, do light, do bem estar, da harmonia; gente cuja perspectiva de felicidade, por tanto, está menos no céu do que nesta Terra - mais um padrão mental perigosíssimo - e está disposta a condenar não só ao inferno, mas a um confinamento domiciliar, às vezes nem sequer isso, todo aquele que incorre em um hábito que polua seus sonhos de um mundo perfeito. Essas pessoas confundem o hábito com o monge, ou melhor, o hábito de fumar (que consideram nojento) com a pessoa do fumante, que passam a considerar nojenta. Ora, uma pessoa nojenta deveria ficar mesmo em casa, trancafiada, pois sua visão causaria um dano estético irreparável no ambiente ao redor do não fumante, o cheiro do cigarro acabaria com o aroma do perfume delicioso do não fumante, e por aí vai...

Esse tipo de anti-tabagismo não é falso moralismo, é moralismo nenhum. Mais uma formidável ocasião na qual o psicológico atropela o lógico: considera-se imoral aquilo que é meramente contrário ao próprio gosto. Aquilo que incomoda o nariz passa a ser visto como falta de caráter, por como seria boa a pessoa que impõe tamanha pena sobre meu narizinho, acostumado com o ar puro das caminhadas sob o sol da manhã, ou o cheiro inebriante de incenso durante uma seção de Yoga, algo maravilhoso, cósmico, e o mais importante: oriental! Afinal aqueles orientais é que sabiam das coisas. Esse negócio de tradição ocidental de liberdade individual está estragando a cor da aura de muita gente... Assim, o sujeito não é só um fumante, é um canalha, e como toda a mídia passa a fazer coro com a opinião desses tipos, e tantos outros tenham achado por bem fazer coro com a opinião da mídia – afinal ninguém tem tempo para pensar quando se pode comprar as idéias numa banca de jornal (onde antes se podia comprar também cigarros) e o circo está montado: agora é só entregar os fumantes aos leões.

Com relação à concepção generalizada de que o cigarro deve ser banido por causa do dano provocado por fumo passivo, duas coisas podem ser ditas a respeito. A primeira é que ao contrário da crença popular, fumantes costumam ser pessoas educadas, fumam nas áreas para fumantes de restaurantes, não soltam baforadas nas caras dos bebês, se estão visitando alguém, perguntam antes se podem fumar no quintal ou na varanda, e por aí vai. Se alguém, no entanto, falta com a educação, a resposta mais simples é reclamar com a pessoa, não é chamar a polícia e aplicar uma multa! Nenhum ser humano normal precisa ser convencido pela lei a cumprir regras de boa educação (e sim, os fumantes são, para fins de direito, seres humanos normais). A segunda está publicada neste interessante artigo: http://www.data-yard.net/science/articles/lies.pdf o qual mostra o tipo de informação viciada que está alimentando o simulacro de moralismo dos anti-tabagistas.

Nossa sociedade mudou. Antes era puritana porque condenava o adultério e o hábito de beber. Agora estamos achando normal cantar a mulher alheia e vinho faz bem à saúde, de modo que está permitido. Fumar, no entanto, o único hábito que não altera seu estado mental e não implica em qualquer imoralidade está ficando proibido. Ao mesmo tempo, outras drogas são liberadas e, para meu grande espanto, as cruzadas moralizantes ainda são feitas contra o cigarro! É uma atitude mais que contra producente, é cretinice mesmo. Um exemplo de vítima dessa atitude é o príncipe dos pregadores, o reformado Charles Haddon Spurgeon, que fez o seguinte pronunciamento numa das ocasiões em que confrontado acerca de seu hábito de fumar charutos:

"Well, dear friends, you know that some men can do to the glory of God what to other men would be sin. And notwithstanding what brother Pentecost has said, I intend to smoke a good cigar to the glory of God before I go to bed to-night.
"If anybody can show me in the Bible the command, 'Thou shalt not smoke,' I am ready to keep it; but I haven't found it yet. I find ten commandments, and it's as much as I can do to keep them; and I've no desire to make them into eleven or twelve.
"The fact is, I have been speaking to you about real sins, not about listening to mere quibbles and scruples. At the same time, I know that what a man believes to be sin becomes a sin to him, and he must give it up. 'Whatsoever is not of faith is sin' [Rom. 14:23], and that is the real point of what my brother Pentecost has been saying.
"Why, a man may think it a sin to have his boots blacked. Well, then, let him give it up, and have them whitewashed. I wish to say that I'm not ashamed of anything whatever that I do, and I don't feel that smoking makes me ashamed, and therefore I mean to smoke to the glory of God."

In: Christian World, on September 25, 1874

Mudando um pouco a atenção do argumento para o problema teológico, que muito me preocupa ultimamente, devo lembrar que os argumentos do tipo “templo do espírito”, recomendando cuidado com o corpo ,baseiam-se normalmente no texto de I Corínthios 6:19-20. Se alguém é imbecil o suficiente para retirar esse texto do contexto e aplica-lo ao tabagismo, eu até posso perdoar ( se bem que já fui chamado de burro por que sou fumante, porém ao menos ainda sei ler...), mas creio que exista uma certa má-fé por parte daqueles que, mesmo com as melhores intenções, ignoram que a passagem começa no verso 12, e trata sobre imoralidade sexual, não sobre cigarros.

Os fumantes, espremidos entre evangélicos e seculares preocupados com os “pecados” alheios, estão suportando um mau bocado. Como já disse, fui chamado de burro por gente, francamente, muito mais burra do que eu. Já vi gente fazer cara feia para o meu cigarro mesmo estando a uma distância enorme. Assim sendo, mesmo um fumante cuidadoso acaba tendo contato direto com diversas amostras da estupidez humana, não em si mesmo, mas nos outros. Estou cada vez mais convencido de que falta amor no mundo...

segunda-feira, agosto 18, 2008

Louvorzão

Já existe um debate um bocado acalorado em andamento a respeito da maneira e conteúdo do louvor nas igrejas evangélicas. Diante da crescente massa de palpites dados a respeito, e do interesse que tenho pelo tema (enquanto freqüentador ocasional de cultos), achei por bem dar meus próprios pitacos a fim de tomar posição em relação ao problema que já causou não poucas dissensões nas igrejas.


A despeito do meu horror a dicotomias simplistas temos, grosso modo, dois pólos disputando o destino do “momento de louvor”. O primeiro deles busca uma liturgia tradicional, com os hinos consagrados nos cantores e hinários, normalmente o grupo é composto de irmãos mais velhos (sou um escritor antiquado, não acho que velho seja ofensa e jamais aderirei ao neologismo politicamente correto “melhor idade”), pastores comprometidos com a ortodoxia teológica e membros que, a meu exemplo, são jovens com alguma preocupação intelectual no que se refere ao conteúdo da mensagem proferida durante a liturgia em todas as suas formas. O segundo grupo costuma ser mais jovem, envolvido com as bandas que tocam na igreja, consumidores de música gospel e preocupados com uma efetiva transmissão de emoção no culto, bem como com o impacto da mensagem a ser proclamada.


Primeiro um pouco de história. Entre os protestantes, os luteranos foram os primeiros a utilizar hinos que incorporavam o cancioneiro popular alemão da época de modo a produzir, em 1524 o Pequeno Livro de Canções Espirituais. Lutero mesmo foi responsável por algumas dessas composições, além de ter iniciado a tradição dos chorales cujo ápice da perfeição foi atingido por Johan Sebastian Bach. Bach, no entanto, não era bem visto pelos pietistas, que favoreciam uma música mais simples, era sim querido dos luteranos, entre os quais podia exercitar sua arte como mais gostava. Já anglicanos e reformados não compartilhavam o entusiasmo luterano por hinos de composição livre, acreditavam adequados somente os hinos contidos na Bíblia, os Salmos em particular. A idéia era de que seria imodesto pretender compor algo mais perfeito do que a Palavra já dispusera nas canções que contém. Ah, e sem instrumentos. Mais adiante na história, Calvino, entre outros, introduziu a paráfrase de Salmos para que a congregação cantasse. A idéia era que a congregação conseguisse também memorizar os hinos e assim ter algum proveito em sua educação teológica. Tal era o intento de John e Charles Wesley, cujas composições e adaptações ajudavam na compreensão da teologia envolvida nos temas cantados. Dessa maneira a Inglaterra abraçou os hinários. Nos Estados Unidos, embora os hinos tenham levado mais tempo para se desenvolverem, especialmente dada a ênfase puritana na simplicidade em tudo, foi estabelecida após a Guerra Civil uma tradição de spirituals e, durante o avivamento durante o século XIX, surge a música gospel, combustível dos revivals que varreram o país convertendo milhares. A notoriedade dessa música estava no impacto que ela trazia enquanto meio de evangelização (breve nota: foi o estilo musical que formou e marcou a carreira do rei do Rock and Roll).


Os mais recentes desenvolvimentos da música na adoração, com o advento do movimento carismático em especial, são o xis da questão. São a corrente abra;cada pelo segundo grupo mencinado na disputa pelo louvor. A música produzida nesse período e por esta corrente procura acima de tudo estimular a emoção e a imaginação do ouvinte, caracterizada por alguns como apelo ao lado feminino das pessoas, por outros como porta de entrada para alguma medida de êxtase místico espiritual. (Não disputo a validade de uma busca por tal sentimento, mas a maneira pela qual isso se dá é algo que tem um profundo impacto sobre a vida de uma congregação diante de Deus.) Quando se chega a esse ponto, já se pode imaginar, a razão saiu pela janela. Estaria o primado do pregador na cultura evangélica ameaçado? Por quê?


Fico matutando, em meio à disputa sobre o louvor na igreja, que se o principal objetivo é o cumprimento da grande comissão, e presumindo que estão em atrito dois grupos de cristãos sinceros, então só restariam duas questões a se resolver: a forma da mensagem e o conteúdo da mesma.


A forma da mensagem, no caso da pregação, favorece a persuasão racional. Trata-se da maneira mais fácil de provar por A mais B que Jesus ama o pecador, morreu por ele e que Deus irá chamar seus escolhidos para viver eternamente no céu. Falando desse jeito fica chato, embora preciso. Existe uma infinidade de nuances teológicas a ser explorada e a firmeza da fé de uma congregação, sua compreensão da consistência da fé professada – algo freqüentemente ignorado por uma geração que não viveu os dias em que se levava a fé a sério e em que os embates contra certos elementos nocivos dentro da igreja eram ferrenhos – depende em grande parte do que é exposto na pregação. Justamente por conta da forma expositiva, a mensagem pode ser analisada e inclusive criticada quando é o caso. Nossas defesas psicológicas estão normalmente em alerta quando lidamos com o discurso que declaradamente defende certas idéias.


A forma da música de louvor contemporânea, além da facilitar a memorização da mensagem, como já bem sabia o velho Lutero, pode ser usada para potencializar o efeito da mensagem. Isso ocorre por meio do apelo psicológico natural que o discurso em forma poética – embora isso seja muitas vezes feito com a poesia mais canhestra ultimamente – possui. É um bom meio de convencer. Acrescente-se a isso que no momento do louvor a congregação canta junta, o conforto e a afirmação encontradas nessa atividade (como bem explica a psicologia de massas) derrubam as defesas psicológicas que o indivíduo possui. O discurso em primeira pessoa, carregado de símbolos sentimentais (que renderam milhões a diversos cantores, bandas e duplas sertanejas) aplicado ao louvor, vira instrumento poderoso de evangelização, mas também pode servir como poderoso alienador das mentes dos que cantam sem refletir.


Eis o ponto ao qual gostaríamos de chegar. A reflexão, o culto racional a Deus, é o que permite ao cristão conservar a fé intacta, sem se corromper. É um dos pilares da Reforma a reflexão séria a respeito da pessoa, do caráter, das obras e do plano de Deus. Como a breve exposição histórica mostra, grandes teólogos dedicaram sua atenção à construção de um hinário consistente com suas visões teológicas. Os efeitos do conteúdo sadio na forma musical foram vistos pelo mundo todo. Hoje, ao invés de servir como apoio à pregação, a música está em muitos lugares se substituindo a ela. Conforme já expusemos acima, o trabalho expositivo pode ser relevado com alguma facilidade, os efeitos do louvor são mais sutis, porém mais duradouros. É como o velho teste. Ninguém lembra na sexta-feira como foi o sermão de domingo, mas muitos sabem quais as músicas que foram apresentadas. Mais ainda, são capazes de repeti-las.


Agora, como se não bastasse isso tudo, um elemento explosivo foi jogado nesse coquetel evangélico. Um elemento externo ao contexto específico da igreja e que afeta a todos os cidadãos igualmente: a imbecilização geral da população. As novas gerações – a minha é uma grande vítima disso – estão recebendo uma educação que mais parece uma piada de mau gosto. Muita gente dentro das igrejas não gosta dos hinos antigos (aqueles que possuem relevância teológica) porque é burra demais para entender o que dizem. Preferem cânticos mais atuais e mais fáceis, limitados na linguagem e no escopo, um movimento indesejável de afastamento do divino e aproximação com o humano. Não quero dizer que dedico menos amor a pessoas burras, mas é que existe tal coisa como a ignorância nociva. Não são poucos os que possuem uma tendência a considerar tudo o que não entendem como algo alheio ao seu interesse, o que não passa de uma grande cretinice. A poesia fácil de entender elogia o horizonte intelectual do ouvinte e o acomoda em si, ao invés de lança-lo em busca de um conhecimento mais completo do Deus. O emotivismo exacerbado e o apelo à experiência pessoal fazem com que o louvor que deveria dirigir-se a Deus trate principalmente da experiência humana. Não é de se surpreender que este tipo de música acabe se afastando, em umas tantas ocasiões, da sã doutrina. Os esforços de um pregador em estabelecer uma fundação teológica sólida para a congregação é solapada pelo trabalho do grupo de louvor, a despeito de suas melhores intenções. As letras compostas com o ouvinte em mente, mais do que a Palavra, acabam fazendo, por vezes mais mal do que bem, gerando uma série de problemas dentro da igreja e contribuindo para a crescente confusão de um público que por si só já não é e não se quer esclarecido.


Ainda resta um aspecto a ser esclarecido: e se o objetivo principal do louvor não for o cumprimento da grande comissão? A música na igreja possui também um outro papel não menos importante, qual seja a exaltação da glória de Deus. Nesse caso o argumento se complica. O caso é que a experiência musical é uma experiência bastante distinta da experiência humana do mundo. O caráter de contemplação pura da beleza de uma composição musical possui inúmeras semelhanças com a contemplação da glória de Deus. Em ambos os casos, nossa experiência destas realidades acaba em si mesma. Assim como a apreciação da música não serve em geral um propósito além de si, a contemplação da glória divina acaba onde começa, em Deus. Não é difícil imaginar a razão pela qual a música nos tenha sido dada, quando consideramos seu caráter quase extra-mundano (é claro que tenho agora em mente muito mais a música de alto nível). Nessa perspectiva de que a música é algo mais sublime do que normalmente cremos que ela seja, o papel do louvor afasta-se ainda mais da perspectiva meramente humana de causar emoções ou de ser facilmente assimilada pelo público. A música passa a cumprir um papel de adoração pura e simples, e uma música feita com o propósito de atender ao mínimo denominador comum humano (e assim ser assimilada e repetida pelo maior número possível de pessoas) é justamente a mais indigna de ser apresentada diante de Deus.


A verdadeira poesia, da mesma forma, presta-se a dizer - de maneira compacta e elegante, abrindo-se para uma pletora de significados - aquilo que a linguagem humana é incapaz de expressar corretamente, mas que é parte da nossa experiência. Não é à toa que a própria Bíblia é repleta de poesia. Dessa forma, nossas línguas e mentes imperfeitas podem transmitir um pouco da experiência da perfeição divina. Querer que a função da poesia seja meramente uma clareza didática e patética é aleijar o culto religioso de uma das formas mais apropriadas para louvar a Deus e contar quem Ele é. Que muita gente seja incapaz de apreciar, sequer no nível mais simples, a diferença entre a grande arte sacra e as coisas que se tem criado nas igrejas ultimamente é nada menos que um sinal dos tempos.


Sou levado, por estas razões, a concluir que a barreira entre o secular e o sagrado deve ser mantida em alguma medida, a despeito do desejo mais ardente de converter milhões ou de entreter uma congregação, ou corremos o risco de abraçar o mundo perdendo a Deus no processo.

quarta-feira, agosto 06, 2008

De volta à carga

Não escrevi aqui ao longo de um bom tempo. Isso acontece e quando em quando. Seria fácil demais empinar o narizinho e dizer que "O que não se pode falar, deve-se calar". A verdade é bem distante das sofisticadas tentativas de enfiar o mundo dentro de uma forma lógica - embora deva reconhecer que o conteúdo da citação é tão verdadeiro quanto evidente. O caso é que estive físicamente cansado demais para dedicar qualquer tempo a uma atividade que foi, durante um longo período, a forma mais rica de contato com o mundo que tive.

Parte do problema se deve ao fato de que estive lutando com alguns volumes de filosofia que restam mal digeridos na cabeça, o que por algum tempo me pareceu mais interessante do que o prazer de dizer qualquer coisa, por mais importante que fosse. Não tenho, no entanto, coragem e nem vontade de abandonar esta página às moscas. Fui acordado do meu sono mental pelo anúncio do post abaixo, o lançamento da nova página do Olavo de Carvalho. Quem conhece a obra do filósofo e lê a minha modesta página sabe que ele em muito me inspira e - embora jamais o tenha conhecido - gostaria muito de pensar que sou de algum modo seu aluno.

O segundo elemento que me pôs novamente a escrever foi o efeito levemente anestésico do estudo, ainda que em seu princípio, de Ludwig Wittgenstein. A maneira pela qual ele dissolvia problemas filosóficos por meio de sua terapia, por estranho que pareça, aliviou um pouco o peso do torvelinho de leituras e acontecimentos políticos e sociais que estavam a pôr-me louco. A serenidade com a qual Wittgenstein coloca todo em volta de lado e vai tratar da forma de vida da linguagem ajudou em muito a necessária tarefa de assumir uma perspectiva diferente diante dos fatos, recompor as energias retornar revigorado ao ciberespaço. Quando tiver que cuidar das outras tantas formas de vida nas quais estou metido, aí a porca vai fumar, mas deixemos as agonias de lado. Se não escrever por prazer ou por necessidade, por que seria?

Como de boas intenções o inferno está cheio, já fomos logo reformulando o blog - modestamente, como manda o bom conservadorismo - incluindo alguns links e excluindo outros, e tentaremos em breve ousar ainda mais.

Estou preparando uma provocaçãozinha sobre o culto em diversas igrejas agora que estou a uma distância segura para fazê-lo. Logo sai. Assim como outras coisas interessantes que nos ocorrerem no caminho.

Pedidas as desculpas, estamos de volta.

Seminário de Filosofia

http://www.seminariodefilosofia.org/

É o novo site de Olavo de Carvalho. Um esforço de publicar a montanha de material que o filósofo produziu ao longo de duas décadas de atividade pedagógica. Já assinei e recomendo.

sexta-feira, abril 18, 2008

Observações rasas

Às vezes a cabeça cansa de pensar tantas coisas sérias. Fico dando tratos à bola no tempo livre, tenho um bocado de idéias e depois acho por bem esquecê-las. Toda uma obra filosófico-teológica que se perde entre o primeiro bocejo e o primeiro cigarro com café. Talvez seja melhor assim, pois levar as idéias ao seu desenvolvimento completo daria mais trabalho do que me permite a capacidade.

As tardes de Dallas são curtas para tudo o que eu gostaria de fazer, mas sobra tempo suficiente para tudo que a preguiça me deixa realizar. Mesmo assim vamos levando. A despeito de todo o molho barbecue, do sotaque gozado e da indumentária caipira, o povo é bastante simpático. Não conheci ninguém muito profundo, mas talvez por isso eles sejam tão alegres. Com 250 canais de TV por 50 dólares ninguém precisa ser muito intelectual. Esta constatação me deixou um bocado solitário uns dias atrás.

Não gosto de reclamar, mas não fosse pelas reclamações o mundo seria meio sem graça. Seria um poço de estoicismo que tornaria a vida mesma insuportável. Eu mesmo, que nunca fui de querer fazer grandes mudanças na vida e sempre suportei as inevitáveis com aquela cara de paciência bovina, ruminando os eventos que passavam por mim, acabei casando. Casar é a coisa mais perturbadora que existe. É introduzir na sua vida uma pessoa que está insatisfeita a maior parte do tempo. Foi a melhor coisa que fiz na vida. Agora sinto-me a salvo de minha própria inércia. A dinâmica funciona bem; há quem não concorde, mas para mim deu certo.

Agora posso reclamar à vontade, sem medo algum, pois no fim das contas, por mais que me achem um imbecil, há uma mulher que me desaprova por todas as razões erradas, mas me ama pelo que sou. Quero ver alguém arranjar um acordo melhor...


Aqui em Dallas as pessoas vão muito ao shopping. Há que nunca tenha visto o mar ao vivo, mas já foi ao shopping umas tantas vezes. Eu que nunca liguei muito para o mar acho que o shopping não é de todo mau. Ao menos não tem frango com farofa, só umas tantas bandejas na praça de alimentação. Em termos de entretenimento a cidade tem algo a oferecer. Eu é que nunca fui descobrir o que era. O que não me sai da cabeça é que Fort Worth, a outra ponta do "Metroplex" é uma cidade muito mais caipira e ao mesmo tempo muito mais cosmopolita do que Dallas. Lá a vida cultural é mais interessante, e concomitantemente existe um inegável jeitão de interior (velho oeste, para ser mais exato). Paradoxo inegavelmente intrigante. Talvez por isso a cidade receba tantos turistas.

Pelo mesmo preço de uma Pizza Hut você pode comprar uma pizza no Buca di Peppo. A pizza vem com pão e um pouco de pimenta para quem gosta. Massa fina, feita na hora, cheirosa e caprichada. Um delícia. Aqui você pode comer muito mal, mas também pode comer muito bem. É questão de escolha. Embora os EUA ofereçam muitas opções, acho que a cultura de junk food persiste por falta de bom gosto mesmo.

A vida adulta é cheia de pequenos aborrecimentos. A vida infantil só é aborrecida quando nos metemos a imitar os adultos. Todavia, a vida adulta possui uma série de refinamentos que a vida infantil não possui. A vida imaginada, rica, de um menino é substituída por um mundo bem mais pobre um possibilidades, menos imaginativo, porém mais rico em detalhes. O homem é mais capaz de perceber as muitas variações sobre o tema do trabalho, da vida familiar, do sexo oposto, da arte, da cozinha, do convívio social. O que gera angústia em muitos adultos é a incapacidade de superar as possibilidades infinitas da imaginação a fim de abraçar as sutilezas da maturidade. Vêem o mundo adulto do qual participam com os olhos de uma criança e o acham aborrecido. Nada mais natural. Poucos são capazes de empreender a tarefa intelectual de amadurecer. Se digo isso, é por que a vida toda lutei para sair dessa infantilidade ordinária na qual observava viverem os homens.

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Salvação e Juízo

Quando penso na ascensão da esquerda, em especial no caso da América Latina, que me toca mais profundamente por razões óbvias, fico um bocado aflito. As vozes que se levantam contra esse levante de loucos - cujos projetos diversos (alguns querem o igualitarismo da sociedade a todo custo, outros querem se perpetuar no poder por suas conveniências, outros ainda procuram exercer um autoritarismo atroz em qualquer esfera de influência que lhes seja confiada) passam todos pela destruição do pouco de civilização que conseguimos alcançar ao custo de muta luta, oração, estudo e trabalho - estão pregando, aparentemente, num deserto de mentes amortecidas.

Pouco consolo há para os que gostariam de ver sociedade e consciência harmonizando-se conforme uma ordem muito maior, a divina, pois todos os dias somos confrontados com o terrível som dos mortos e feridos pelas guerrilhas, pelos criminosos, pelos ditadores. Pouco consolo há porque estes três estão unidos e prontos para tomar de assalto o continente laboriosamente catequizado pelos jesuítas e evangelizado pelos missionários ao longo de séculos, destruindo a obra de salvar almas em prol da construção do paraíso terrestre agora.

Porém, aqueles que pretendem entender o universo melhor que o criador nos verão mortos, se lhes aliviar as consciências, pois não suportam a verdade. Não suportam ser expostos aos próprios pecados e à própria insignificância. Nós, eleitos por Deus para herdarmos o mundo com Cristo, passamos por isso, e nos arrependemos, confrontamos nossa miséria, nossa degradação radical, nossa alma morta pelo pecado sob cujo signo nascemos. Somos, portanto, mais maduros, menos apressados em perturbar ainda mais a fúria do mundo criado e caído, lançado em confusão. Ao olharmos paro alto buscamos ali o bálsamo para estas feridas, a Palavra de Deus, as consolações do Espírito. Aí nos detemos, basta.

Estes que procuram estabelecer seus reinos aqui são poderosos aos olhos dos homens. Nós nada faremos além do que nos manda o Senhor. Se falamos contra eles é para que, tendo sua insensatez exposta, se arrependam. Mas é necessário que falemos. Ao alçarmos nossas vozes contra o nefasto poderio desta esquerda latino-americana, ou mesmo de toda a esquerda, em sua revolta contra Deus, partilhada por todo bom revolucionário, não anunciamos nada novo. Anunciamos a transitoriedade dos projetos humanos, casas na areia, que caem como todos os impérios. Essa é a melhor visão da política a partir da teologia, a meu ver. Buscamos valores mais elevados, nada transitórios, e os buscamos fora de nós, para que não nos gloriemos. O resto está condenado ao pó.

Dessa forma me veio o consolo. Antes, no entanto, li esta palavra: "Poderá um trono corrupto estar em aliança contigo? Um trono que faz injustiças em nome da lei? Eles planejam contra a vida dos justos e condenam os inocentes à morte. Mas o Senhor é minha torre segura; o meu Deus é a rocha em que encontro refúgio. Deus fará cais sobre eles os seus crimes, e os destruirá por causa dos seus pecados; o Senhor, o nosso Deus, os detruirá!" (Sal. 94:20-23).

O trono corrupto não possui aliança com Deus. Se o afirma, é mentiroso. As injustiças, as vemos todos os dias, sem cessar. Muitos são os que preferem comprometer os princípios em nome de seus objetivos, sacrificam tudo e todos em nome de suas revoluções e seus ideais. Somente em Cristo podemos viver por um ideal e não trair nossos princípios. Se a verdade ó só uma, se nossa meta é viver com Deus, os princípio, os mandamentos, a Graça justificadora, se confundem e não se contradizem, antes cooperam para nos levar ao objetivo.

Já que cremos nesta verdade, e a examinamos de coração sincero, não somos confundidos pelas mentiras do Acusador, nem pelas mentiras daqueles que são da parte dele. Já é hora de deixarmos de comprar a paz perpétua e a felicidade futura daqueles que não podem oferecê-la. Quando fala-se do populismo ressurgente na AL é esse o problema que enfrentamos. As pessoas estão muito prontas a crer a todo custo, mas não conhecem aqueles em que crêem como nós conhecemos e buscamos a Deus. Serão desapontadas para crer no próximo salvador, sem ver que a salvação já chegou, uma única vez, e depois virá o juízo.

sexta-feira, janeiro 25, 2008

Desta vez, política e religião.


David Horsey fez esse cartoon muito engraçado sobre a Hillary Clinton no Seattle Post-Inteligencer. Ela, assim como Obama, estão procurando amelhar os votos dos evangélicos aqui nos EUA. Só espero que os últimos tenham a sensatez de não acreditar no canto da sereia (a maioria não vai). Os Democratas sempre acabam agindo como os vermelhinhos que são, empurrando aborto, casamento gay e perseguição ao cristianismo para a população.

Já no Brasil, a extrema direita se espelha no Partido Democrata norte-americano. Ou eles são muito estúpidos, ou crêem piamente que o somos nós. O máximo direitismo permitido no Brasil se inspirando no esquerdismo atroz norte-americano é algo a se pensar. O fato de terem conseguido empurrar esta empulhação para o eleitorado mostra como o Brasil se situa em um universo paralelo, onde nada é igual ao resto do mundo. O Brasil é o mundo bizarro (alguém aí lia Super-Homem?), onde o certo é errado, o bom é mau. Sim, no Brasil o Lex Luthor é herói e o Super-Homem é vilão. Quer dizer... Tem gente aplaudindo o Lula de pé como se ele prestasse para alguma coisa, é óbvio que tem caroço nesse angu.

Voltando ao tema inicial, fico intrigado com o fato de o eleitorado "evangélico" não fazer como fazem nossos irmãos do norte, aceita o esquerdismo lulista como se isso não fosse em si a negação mesma do evangelho. Se o Brasil ainda é vítima do populismo messiânico e da propaganda de esquerda é porque não estamos conseguindo fazer a diferença que deveríamos (acreditar que vai aparecer o salvador da pátria não é compatível com a idéia de que o homem é pecador, caído, danado e ruim mesmo...). A maioria das igrejas inda não é capaz de tomar uma posição firme a respeito do futuro do país, como se o negócio fosse esperar o reino dos céus e deixar o Rabudo pondo fogo aqui na terra. A religião é uma força conservadora poderosa, mas quando as lideranças religiosas preferem se calar diante da ascenção esquerdista, vê-se que estão compactuando com o movimento que visa exterminá-los. Depois vão reclamar nos cultos da falta de ética, valores e não sei mais o que por parte do "mundo". Mas deixam o povo livre para eleger o anti-cristão, o abortista, o amigo do movimento gay... Não quero ouvir um a de reclamação quando tem pastor sendo preso em Cuba simplesmente por exercício regular da profissão por parte daqueles que nada fizeram diante da eleição do amigo de Fidel no Brasil.