quarta-feira, junho 17, 2009

Em férias

Das férias não há muito a dizer. Abracei meus pais, visitei parentes, encontrei amigos, fiz compras, às vezes com gosto, outras à contra gosto. Depois de dois anos reclamando a falta de tempo para estudar o que gosto, minha atenção se dispersa entre visitações, restaurantes, bebedeiras ocasionais que só fazem cócegas à minha consciência e me aborrecem o estômago.

Tudo parece um regresso à adolescência tardia que vivi antes de casar. O que me surpreende é o fato de que estive tão afeito a essa vida que hoje já não reconheço. Não me vejo mais como o moleque folgado que passava os dias entre a TV e a internet, roubando algum tempo para os livros quando convinha. Hoje, por simplória que seja minha ocupação, tenho lá minhas responsabilidades, que pesam e ao mesmo tempo dão ao peito certa gravidade e aos pés um alicerce mais firme no real. Diante de tudo isso, a preguiçosa passagem dos dias de férias incomoda bastante.

Quando observo os homens de gênio, o quanto fazem e em quão pouco tempo, fico abismado ao ver quão pouco tenho eu para mostrar na hora de prestar conta dos meus dias. Pensar nisso me incomoda um bocado, ainda que tenha certeza de que minha atenção vagante tratará de esquecer o negócio todo diante da primeira oportunidade de fazer algo menos deprimente.

Tentação diabólica pensar bobagens ao invés de concentrar a mente e o espírito em algo que preste. Nas poucas vezes em que fiz o esforço a recompensa foi grande. Agora que patino nestas reclamações medíocres, nem o pior, nem o melhor entre meus pares, simplesmente perdido em meio à vastidão do mundo assim aberto diante dos olhos, tremo diante da responsabilidade que tanta gente assume sem mais delongas: ser homem.

É certo que minha covardia recede diante da necessidade e do dever, espremido, então, entre a inércia e o impulso que de fora me leva a agir em favor de algum avanço, algo melhor na vida, fica espremido o melhor em mim, a parte que, não fosse minha pequenez, teria achado energia e tempo para fazer algo da vida que ao menos tivesse um sentido identificável. Tenho medo de me tornar mais um caso, nas palavras do filósofo, de vida que poderia ter sido e não foi.

Outras dúvidas ocorrem na cabeça desocupada: será que minha propensão intelectual é vocação ou teimosia? Comecei a coisa toda por não saber mais o que fazer. Só sabia ler o que quer que fosse e, confundindo inteligência com leitura, tentei me aprofundar no desenvolvimento do intelecto, tudo para descobrir que na verdade faltava ainda fazer brilhar o espírito, e que a verdadeira vida intelectual se passava fora dos textos dos livros - meros registros, sombras amarelecidas da verdadeira inteligência. Dos livros acabei chagando a algo mais profundo e, embora fascinado, ao ver que o buraco era mais embaixo, me encontrei novamente perdido, para meu desconsolo. No mais, que fim se haverá de dar a tanta inteligência? Bastará que ela exista e ficaremos todos satisfeitos?

Levei três semanas para sair do zum zum zum patético das férias tão aguardadas e articular estas lamentações. Quanto mais tempo não levarei para fazer algo a respeito... Esta aflição é paralisante. Se não passar sozinha, não sei que fim terei. Só sei que não será bonito.